Jogos Paralímpicos

O Afeganistão caiu para os talibã e dois atletas paralímpicos não poderão ir aos Jogos: “É devastador, íamos fazer história”

Kimia Yousofi e Farzad Mansouri, os porta-estandartes do Afeganistão na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, que decorreram antes do arranque dos Paralímpicos
Kimia Yousofi e Farzad Mansouri, os porta-estandartes do Afeganistão na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, que decorreram antes do arranque dos Paralímpicos
Matthias Hangst/Getty

O Afeganistão foi tomado pelos talibãs e o sonho de Zakia Khudadadi e Hossain Rasouli acabou por não se cumprir. Khudadadi seria a primeira mulher paralímpica a representar o país, mas não conseguiu viajar para Tóquio com o seu companheiro de equipa

Rita Meireles

Os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, que se realizam este ano após o adiamento devido à pandemia causada pela covid-19, ainda não começaram. Mas, uma semana antes do início, já há uma delegação, composta por dois atletas, impossibilitada de estar presente.

É composta por Zakia Khudadadi e Hossain Rasouli, praticantes de taekwondo e atletismo, respetivamente. E são afegãos.

Com a queda de Cabul, capital do país, e diversas outras cidades nas mãos dos talibãs, após a retirada das tropas norte-americanas do território, a situação ficou rapidamente fora de controlo. O aeroporto da capital esteve encerrado durante várias horas para uso dos militares e, entretanto, os preços das viagens já atingiram valores bastante elevados.

"Infelizmente, devido à atual agitação que se vive no Afeganistão, a equipa não conseguiu sair de Cabul a tempo", explicou Arian Sadiqi, chefe da missão paralímpica afegã, a partir de Londres. O próprio iria viajar para o Japão ao longo da passada segunda-feira, enquanto que os atletas deveriam chegar esta terça-feira.

Em declarações à "BBC Sports", Sadiqi acrescentou: “Para ser honesto, é muito difícil. O meu coração está a tremer, não consegui dormir ontem à noite. Toda a situação tornou-se caótica muito rapidamente, pelo que não tivemos outra escolha a não ser optar por não participar nos Jogos porque não havia voos comerciais para dentro ou fora do Afeganistão, excepto nas bases militares, se não me engano”.

A participação de Zakia Khudadadi nos Jogos era mais do que uma esperança a nível desportivo para o país, era uma esperança para todas as mulheres afegãs. Caso tivesse conseguido fazer a viagem para Tóquio, seria a primeira mulher a representar a bandeira na competição paralímpica.

“É devastador. Para mim, isto [a participação de Khudadadi] era fazer história. Nós íamos fazer história. Queríamos usá-la como modelo para o resto das atletas femininas, especialmente paralímpicas. Para dizer que se ela é capaz de o fazer, também o podes fazer, para encorajar mais participantes”, explica Sadiqi à "BBC Sports".

O chefe da missão, baseando-se nos últimos acontecimentos, mostrou-se sem esperança.

“Não vai ser uma boa notícia porque foram precisos 20 anos para que as mulheres saíssem das suas conchas, para serem empoderadas, irem para escolas, universidades, trabalhar e para se envolverem em atividades físicas e desportivas. Agora só posso imaginar que o seu mundo acabou de ser despedaçado mais uma vez. Não há esperança pelo que posso ver", afirmou na mesma entrevista.

A primeira vez que o Afeganistão participou nos Jogos Paralímpicos foi em 1996, mas nunca conseguiram chegar às medalhas. A nível olímpico, Rohullah Nikpai, praticante de taekwondo, foi o primeiro medalhado do país.

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