Os Jogos da Commonwealth, que decorrem até esta segunda-feira na cidade inglesa de Birmingham, marcam a diferença em relação a outras competições multi-desportivas pela integração. Ao programa tradicional juntou-se um programa paralímpico que tem sido um sucesso nas bancadas. O que voltou a trazer à tona uma velha questão: deveriam os Jogos Olímpicos e Paralímpicos disputar-se ao mesmo tempo, nas mesmas datas e nos mesmos locais?
A ideia, no papel, parece dar as mãos a uma evolução no caminho da total integração e igualdade, mas na prática poderá ser mais prejudicial do que positiva para o movimento paralímpico. São os seus próprios responsáveis que o ressalvam. Em entrevista ao podcast “BBC’s Access All”, da emissora pública britânica, Craig Spence, porta-voz do Comité Paralímpico Internacional, sublinha que o desporto adaptado está numa “forte escalada ascendente” e que a expansão dos Jogos Olímpicos com a introdução dos desportos para atletas com deficiência poderia “potencialmente parar ou colocar em risco esse crescimento".
"Poderíamos fazer marcha-atrás”, disse Spence, que garante que o atual modelo, em que a mesma cidade recebe Jogos Olímpicos e Paralímpicos com algumas semanas de intervalo, funciona para o movimento paralímpico neste momento: “Serve-nos bem e queremos mantê-lo assim”. Pelo menos até 2032, quando os Jogos Olímpicos viajarem pela terceira vez para os antípodas, na Austrália (serão em Brisbane), o contrato entre os dois comités internacionais prevê que as provas se realizem nos moldes atuais.
Tanni Grey-Thompson, política galesa e dona de 11 medalhas de ouro paralímpicas em corridas de velocidade em cadeira de rodas, relembrou no mesmo podcast as questões logísticas que tornam praticamente impossível que Jogos Olímpicos e Paralímpicos se realizem ao mesmo tempo e no mesmo lugar, sem que existisse uma substancial redução dos dois programas de provas.
“A nível prático, acho que não há nenhuma cidade no mundo que tenha capacidade de organizar uns Jogos combinados”, afirmou à BBC. Ainda assim a antiga atleta pede uma maior integração não só ao nível dos Jogos da Commonwealth como também em campeonatos do Mundo e da Europa.
Porém, mais do que as atrapalhações práticas e logísticas, a questão essencial está mesmo ligada à visibilidade do desporto paralímpico. “O nosso medo é que ao juntar os dois eventos se ouça falar muito menos das provas paralímpicas, colocando em risco o impacto dos Jogos como o mais transformador dos eventos desportivos a nível planetário”, sublinhou Craig Spence, que acredita que mais importante será reforçar o crescimento dos Jogos Paralímpicos nos próximos anos.