Os objetivos da missão portuguesa aos Jogos Olímpicos de Tóquio foram “plenamente atingidos", senão “ultrapassados”, sublinhou José Manuel Constantino durante a conferência de imprensa de balanço da participação de Portugal em Tóquio 2020, na Aldeia Olímpica da capital nipónica, falando dos “melhores resultados” de sempre de uma comitiva portuguesa em Jogos Olímpicos.
"Tínhamos previsto um resultado não inferior a duas posições de pódio, alcançámos quatro. Um resultado não inferior a 12 diplomas, alcançámos 15, nos quais se incluem os quatro pódios”, exemplificou o presidente do Comité Olímpico de Portugal, que frisou ainda os “três recordes nacionais, cinco recordes pessoais, 17 melhores marcas em Jogos Olímpicos e 26 melhores classificações também em Jogos Olímpicos” conseguidos por atletas portugueses.
Constantino falou ainda daquilo que não foi atingido, nomeadamente a participação feminina, que o COP apontava para 40% da comitiva, ficando-se pelos 39,1% e o número de modalidades. “Queriamos 19 modalidades, conseguimos apenas 17”, disse.
“Saímos satisfeitos. Que este esforço dos nossos atletas e federações, das nossas modalidades, do COP, possa também ter ganhos do ponto de vista da concentração de apoios, recursos e de medidas que ajudem ao desenvolvimento do desporto nacional e que possa ser um sinal para a sociedade portuguesa de que temos um valor no contexto do sistema desportivo internacional que não tínhamos tido até agora. Agora é continuar para sermos ainda mais fortes, mais competitivos e não regressarmos à situação que anteriormente tínhamos”, frisou ainda o presidente do COP.
Sobre desilusões, Constantino reconhece que também as houve, do “ponto de vista dos resultados”, mas não “do ponto de vista da entrega”.
A questão Pichardo
Questionado sobre Pedro Pablo Pichardo, que deixa Tóquio com uma medalha de ouro, a 5.ª da história de Portugal nos Jogos Olímpicos e primeira desde Pequim 2008, e pela forma como alguns portugueses ainda torcem o nariz ao seu processo de nacionalidade, José Manuel Constantino lembra que a missão portuguesa tinha “92 atletas e que desses 16, em seis modalidades, não nasceram em Portugal”.
“Desses, vários vieram para cá porque os pais escolheram Portugal para viver. A sua formação desportiva é feita em Portugal. Sgnifica que 88% da nossa missão tinha atletas cuja formação desportiva foi feita em Portugal. Porque é que as coisas tiveram a dimensão que tiveram? Houve uma medalha de ouro. E uma naturalização feita em condições que vocês conhecem, depois de um conflito relativamente a uma mobilidade associativa, clubistica. Isto atingiu uma dimensão que não é nova na sociedade portuguesa”, disse
“O que é importante é que é um cidadão que escolhe Portugal para viver, traz para cá a sua família, quer ser português, quer representar Portugal e foi o seu talento e qualidade e esforço e entrega que fez com que nós todos nos emocionassemos quando a bandeira portuguesa subiu o mastro. Devemos-lhe esse momento. E ele também o sentiu. Creio que é um assunto que com o tempo se resolverá com facilidade”, vaticinou.

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Constantino recordou ainda que a aposta no atleta não foi inicialemente do Comité Olímpico. “Quem apostou no Pedro Pablo Pichardo foi o Benfica. E o Pedro Pablo Pichardo e o Benfica entenderam que ao fim de uma determinada presença em Portugal havia vontade do atleta em se naturalizar português, adotando os procedimentos que estão previstos para situações similares”, explicou ainda.
Apoios do Governo
Constantino, que reconheceu a necessidade de Portugal alargar as modalidades em que é apurado em próximos Jogos Olímpicos, aprovando também as novas modalidades como o surf, skate ou escalada, falou ainda do próximo ciclo olímpico, mais curto, e das negociações dos apoios com o Governo para a preparação para Paris 2024. E admite que os resultados conquistados em Tóquio são um bom ponto de partida para um reforço das verbas.
“As negociações ainda não se iniciaram. Da parte do presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude houve uma manifestação de vontade de que elas se possam iniciar imediatamente a seguir aos Jogos. Eu creio que os resultados alcançados são uma boa almofada para essa conversação e negociação. Se os resultados alcançados ficassem aquém daquilo que foi contratualizado, naturalmente que a nossa interlocução estava fragilizada e diminuída. Com que legitimidade é que se solicitaria um reforço dos apoios à preparação olímpica num quadro em que não tinhamos sido capazes de cumprir aquilo que nos tínhamos comprometido com o Governo?”, questiona, deixando o recado: “O Governo reconhecerá com facilidade que qualquer aumento de apoio à preparação olímpica se pode traduzir em qualidade de resultados alcançados”.
Constantino sublinhou ainda a necessidade “do ponto de vista das políticas públicas e associativas” em dar “mais atenção ao desporto e que o desporto tenha um papel mais presente na sociedade portuguesa, de modo a que se possa potenciar os talentos que Portugal possa ter”, falando da importância dos clubes neste cenário.
“Eu creio que há aqui um elemento fundamental que tem sido pouco falado e que me parece crítico nesta matérias: o centro do desenvolvimento desportivo nacional é o clube. É aí que tudo passa. Se não houver clubes não há atletas. A célula base do desenvolimento é o clube. Peço desculpa mas não é a escola, é o clube. A escola é um elemento essencial e uma componente complementar”, disse.
Já sobre os cortes de financiamento às federações, denunciado pelo COP em maio, Constantino refere que terão consequências, lembrando que o financiamento continua longe daquilo que era nos tempos pré-troika. “Naturalmente que isso tem consequencias na capacidade de trabalho das proprias federações e coloca limitações, mas essa é uma realidade com a qual temos de trabalhar. Eu nunca imputaria às condições que foram oferecidas os resultados da missão, fossem os que fossem. Os resultados da missão devem-se ao valor que foi possivel aos nossos atletas naqueles momentos exprimir no contexto das competições”.

E apesar de dizer que agora o momento “é de exaltação e de valorização dos nossos atletas, treinadores e federações”, o responsável pelo Comité Olímpico do Portugal não de coibiu a deixar uma mensagem aos governantes que rapidamente se apressam a aparecer na hora das medalhas.
“A vida hoje é assim, a tendencia natural é para cada um justificar os creditos que entende que tem relativamente ao sucesso alcançado. Mas há algo que tenho de dizer: o Governo não fugiu às suas responsbilidades em algum momento relativamente aos apoios financeiros que contratualizou com o COP. Agora, há quem perante o sucesso corra a associar-se ao sucesso e há quem perante o sucesso o aplaude, o celebre, mas mantenha o distanciamente civico que separa aquilo que é o sucesso de um atleta e aquilo que é a obrigaçao de um Governo, do COP”, disse, lembrando que é necessário estar presente “nos momentos bons e nos momentos maus”.
Já num balanço mais geral sobre os Jogos Olímpicos de Tóquio, que decorreram em pleno estado de emergência na capital do Japão e num contexto de grandes restrições, José Manuel Constantino faz também “um balanço positivo”.
“Todos conhecem as condições em que os Jogos se realizaram, as dúvidas que havia se os Jogos seriam cancelados ou se seriam cancelados. Felizmente foram realizados e, apesar de todas as limitações, todos os constrangimentos, consideramos que valeu a pena”, diz.
José Manuel Constantino, que não quis avançar se se vai recandidatar à presidencia do COP ou não, chega este domingo a Portugal, no mesmo dia em que encerram oficialmente os Jogos Olímpicos, com a cerimónia de encerramento no Estádio Olímpico de Tóquio.