A ideia de que os japoneses não queriam os Jogos Olímpicos parece ter ficado algo desfeita ao longo destas duas semanas. E a prova são as centenas de pessoas que se acercaram do Estádio Olímpico de Tóquio no dia da cerimónia de encerramento. Nem o perímetro das autoridades resistiu. Nos prédios circundantes, com janelas largas, dezenas de miúdos acenam para quem passa, com as lanternas dos telemóveis acesas. Alguns fazem até um coração com os braços para as pessoas que passam nas tribunas do estádio, que respondem também. Há gente na mesa de jantar a fazer a sua refeição e quem está cá tudo vê destas cenas da vida familiar japonesa.
É como se nos tivéssemos todos tornado amigos depois de um início difícil.
É claro que há sempre exceções. O que nem no último dia oficial de Jogos parece mudar é a intransigência de alguns voluntários. Na bancada de imprensa, com centenas de mesas vazias, quem tem bilhete para um lugar sem mesa não pode usar as mesas de trabalho disponíveis porque, já sabemos, há regras e não há lugar para improvisos. Nem com duas semanas de presença de mais de 200 nações num mesmo espaço certos nativos parecem ter baixado a guarda e aprendido qualquer coisa da arte do desenrascar e por isso é com o computador nas pernas que muitos escrevem, enquanto o espaço central das bancadas está às moscas.
Por esta altura, já nem vale a pena uma pessoa se insurgir, estava tudo a encaminhar-se, a correr tão bem, estávamos a entender-nos finalmente mas para alguns será sempre mais rápido, mais alto, mais forte, mais picuinhas.