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Jogos Olímpicos

Marta Pen: “São 4 minutos na pista, mas 15 anos de trabalho. É importante termos objetivos, mesmo que sejam assustadores. Vale a pena”

Apesar de garantir a melhor marca pessoal do ano, Marta Pen terminou a semifinal de 1.500 metros na 19.º e ficou afastada da final. No fim da corrida, disse estar "muito orgulhosa", demonstrou gratidão e explicou a virtude de magicar objetivos: "Queria transmitir que é importante termos objetivos, mesmo que sejam assustadores, vale a pena"

Hugo Tavares da Silva

JAVIER SORIANO

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À medida que os segundos avançavam e os metros galgados pertenciam ao passado, Marta Pen começou a deixar escapar as rivais com mais pedalada. Mesmo que tivesse energia, por momentos esteve bloqueada. A atleta portuguesa, que até acabou bem a prova, terminou em 10.º na segunda semi-final dos 400 metros (19.º na geral) e assim ficou fora da final. No fim, estava feliz.

“A prova de 1.500 metros é bastante tática, houve ali um pequeno erro tático, todas queremos estar na posição ideal”, começou por dizer ao microfone da "RTP", na zona mista, logo após a corrida. “Infelizmente, descolei do grupo da frente, demorei algum tempo a encontrar o meu caminho, consegui acabar forte com a [Elise] Vanderelst. Tenho de estar orgulhosa da minha prestação. Chegar aos Jogos Olímpicos e correr a minha melhor marca do ano, numa prova tática é sem dúvida um bom indicador, só posso estar orgulhosa.”

Sem surpresa, Sifan Hassan, que está empenhada em ganhar ouros em 1.500m, 5.000m e 10.000m, ganhou a corrida em 4:00.23. A britânica Laura Muir, a australiana Linden Hall, a ugandesa Winnie Nanyondo e a espanhola Marta Pérez garantiram a presença na final. Pen terminou a prova em 4:04.15, foi o melhor tempo da temporada para a portuguesa.

Sobre o que representa estar ali e o que se aprende, Pen olhou para trás para olhar para a frente. “São quatro minutos na pista, mas são 15 anos de trabalho. Houve alguns momentos, durante a minha carreira, que foram grandes mudanças de mindset. Uma das coisas que me marcou muito foi perder o meu pai. Isso fez com que eu deixasse de pensar que um dia podia ir aos Jogos Olímpicos para começar a pensar que quero ir aos próximos Jogos Olímpicos.”

Marta Pen queria que a mãe e as irmãs a vissem na competição maior do desporto mundial, “o palco dos sonhos”, como ela diz. Foi assim que ganhou fogo para correr, para definir a ideia e a rota.

“Às vezes, para atingirmos coisas importantes na nossa vida, temos de meter timings. Na altura eu estava muito longe. Quando disse ao meu treinador que queria ir aos Jogos Olímpicos em dois anos, foi um choque para ele. É assim, passinho a passinho. Queria transmitir que é importante termos objetivos, mesmo que sejam assustadores, vale a pena”, explicou.

Depois de agradecer à família e ao marido (“às vezes acredita mais em mim do que eu”), a portuguesa que também esteve no Rio de Janeiro, há cinco anos, deixou palavras de gratidão para os treinadores em que foi tropeçando pelo caminho. “Tive a sorte de trabalhar com pessoas extremamente talentosas e apaixonadas por este desporto.”

O discurso parecia de despedida, mas não era, era só gratidão, pois a promessa veio depois: “Estive no palco dos sonhos, queria mais. Daqui a três anos voltamos com mais objetivos e para viver mais o sonho”.