“Tenho de me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco o meu bem-estar”. Simone Biles, a atleta de quem esperávamos tudo, a atleta a quem se calhar exigimos demais, quebrou. Nuns Jogos Olímpicos em que tinha tudo para ser a grande estrela, a norte-americana de 24 anos precisou de ouvir o que lhe ia lá dentro, afastar-se. E isso é mais importante que medalhas de ouro.
Se inicialmente a desistência da ginasta norte-americana da competição por equipas parecia dever-se a uma lesão, depois de uma aterragem incaracteristicamente falhada no salto, uma das suas maiores especialidades, foi a própria Biles que assumiu as dificuldades em lidar com a pressão dos Jogos Olímpicos.
“Estou a debater-me por dentro com algumas coisas”, disse emocionada aos jornalistas. “Sempre que se entra numa situação de stress, uma pessoa quase enlouquece. É uma porcaria quando se está a lutar contra a própria cabeça”, disse, assumindo que vive um momento de grande falta de confiança.
“Simplesmente não confio tanto em mim como em outros tempos. Não sei se é da idade, mas fico mais nervosa quando compito. E não me estou a divertir como antes acontecia”, assumiu.

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Simone Biles disse ainda que sentiu que as colegas precisavam de avançar na competição sem ela. “E elas fizeram exatamente isso. Foi um longo ano, este. Depois do que aconteceu no salto, não queria ir para os outros aparelhos com dúvidas. Então resolvi dar um passo atrás, pensar na minha saúde mental”.
Causou estranheza no Centro de Ginástica de Ariake que Simone Biles não tentasse um elemento de grande dificuldade no cavalo, onde é indiscutivelmente a melhor atleta do mundo. A aterragem, mesmo com um elemento mais simples, também não correu bem. Já durante as qualificações a ginasta cometeu erros pouco comuns, nomeadamente no solo e na trave, com uma saídas longe de perfeitas. E coisas longe de perfeitas é algo que não se costuma ver em Simone Biles, que acabou confortada pelo presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach.
Aos jornalistas, a atleta assumiu que durante o aquecimento se sentiu bem, mas que algo mudou e que precisa de lidar com os seus demónios. Por isso, a sua continuidade em Tóquio ainda não é certa. Biles diz que vai esta quarta-feira pensar no que fará, se continua a competir ou retira-se definitivamente dos Jogos. Na quinta-feira há final do all-around feminino e na próxima semana Biles está apurada para as finais dos quatro aparelhos.
Sem Biles, que deixou a competição antes do segundo aparelho, as barras assimétricas, os Estados Unidos não conseguiram revalidar os títulos de 2012 e 2016. A vitória acabou por ir para a seleção do Comité Olímpico da Rússia. Biles, que ficou da parte de fora a torcer pelas colegas, subiu ao pódio para receber a prata. Se será esta a sua única medalha em Tóquio é algo que vai refletir nas próximas horas.