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Jogos Olímpicos de Paris 2024

A melhor foto dos Jogos foi tirada a 15.000 km de Paris, no surf. E quem a tirou diz-nos que estava mais preocupado em não estragar a câmara

A melhor foto dos Jogos foi tirada a 15.000 km de Paris, no surf. E quem a tirou diz-nos que estava mais preocupado em não estragar a câmara
JEROME BROUILLET
Jerome Brouillet estava no barco dos fotógrafos mesmo ao lado do lugar onde quebra a assustadora onda de Teahupo'o, no Taiti, e já nem estava a ver Gabriel Medina. Mas, pelo tamanho da vaga e conhecendo a queda do brasileiro para os festejos, apontou para o sítio onde esperava vê-lo a sair disparado da onda, a fazer o kick out. Num misto de sorte, instinto e não se aperceber sequer, no momento, que tinha em mãos uma imagem icónica, o fotógrafo explica à Tribuna Expresso como foi captar a fotografia mais espetacular destes Jogos Olímpicos a 15 mil quilómetros de Paris

Diz-se não haver palavras que cheguem, apesar da infinitude das que existem, para se descrever uma imagem quando é incrível. Os Jogos Olímpicos são férteis em fotografias dessa estirpe, das que dizem tudo sem precisar que se diga algo por elas: a de Usain Bolt em 2016, no Rio de Janeiro, a sorrir para os adversários ao cortar a meta na meia-final dos 100 metros; a de Jesse Owens em 1936, nas barbas de Adolf Hitler em Berlim, um atleta negro no cume do pódio em Berlim com um alemão na prata, ao seu lado, a fazer a saudação nazi; a de Mark Spitz com o seu bigode e cueca de natação, a posar com as sete medalhas de ouro que conquistara nos Jogos de 1972.

Por motivos diversos, uns mais políticos ou pela simbologia, outros devido à emoção e ternura, como a que captou Derek Redmond a chorar de agonia, em 1992, ao romper o tendão de Aquiles durante a meia-final dos 400 metros, e o seu pai a furar a segurança para ajudar o filho a coxear até à meta, há fotografias que estão inscritas a toque de pedra à memória coletiva dos Jogos Olímpicos, seja pelas razões que forem. Na noite de segunda-feira, esta edição inculcou mais uma a essa galeria graças a uma das modalidades mais recentemente incluídas na panóplia olímpica.

E foi captada a mais de 15 mil quilómetros de Paris, dentro de um barco, por alguém que um segundo antes de carregar no botão nem sequer via onde estava o sujeito da fotografia.

A imagem parece uma montagem, tão simetricamente genial é na exibição dos seus elementos: nela surge Gabriel Medina, todo hirto e esticado na vertical, em voo, com o braço e dedo indicador direitos apontados no ar, ele e a sua prancha de surf ao lado, alinhados e ligados pelo leash que os une na horizontal, ambos aparentemente a levitarem sobre a linha da água salgada. No enquadramento da fotografia não surge o resto do contexto, mas o brasileiro, três vezes campeão mundial, acabara de sair de um cavernoso tubo esculpido por uma tenebrosa onda em Teahupo’o, no Taiti, lugar da prova olímpica de surf e um dos sítios mais espetaculares, porque perigoso, para humanos se atreverem a apanhar ondas.

Mal a fotografia foi posta em linha pela agência AFP e, posteriormente, pela Getty, o mundo maravilhou-se com a aparente levitação de Gabriel Medina, um dos surfistas mais conhecidos do planeta. Já milhares, senão milhões de pessoas a partilhavam, comentavam e elogiavam quando, coisa de uma hora depois de captar essa fotografia, Jérôme Brouillet regressou a terra para descansar. Ainda desconhecia o furor.

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