Ter sido o primeiro capitão da seleção nacional valeria um filme; orientar a seleção durante praticamente 20 anos, levando-a ao primeiro grande torneio internacional do futebol português, valeria um filme; ter jogado no Benfica e de lá saído para fundar o Casa Pia, ter sido o treinador por excelência dos 5 Violinos no Sporting, ter treinado o FC Porto e sido o primeiro português a orientar uma equipa no estrangeiro seria digno de um filme; ter fundado o jornal “A Bola”, escrito livros sobre futebol e ido cobrir Mundiais in situ justificaria um filme.
Ter espiado a favor dos Aliados, durante a II Guerra Mundial, e por isso acabar no Tarrafal, mereceria um filme. Cada pedaço da vida de Cândido de Oliveira parece saído de uma ficção, de uma história entre a epopeia e o drama, a ação e até a tragédia.
De tantas vidas, Jorge Paixão da Costa escolheu 1942 como momento de “Cândido”, um filme que estreia a 9 de março sobre “o espião que veio do futebol”. “Ele é a figura mais fascinante da história do futebol português e a alma do jogo em Portugal até meados do século XX”, diz, à Tribuna Expresso, João Nuno Coelho, consultor do filme e especialista em história do futebol, que estuda há 35 anos, recordando o título que Vítor Santos, jornalista de “A Bola” que foi chefe de redação depois de Cândido, lhe deu: “O prémio Nobel da bola”.
O centro da narrativa é a presença de Oliveira, que trabalhava nos CTT, na rede PAX, um movimento clandestino britânico que operava em Portugal, atuando contra os Nazis na prevenção de uma potencial invasão alemã. E talvez seja o amor que Cândido, interpretado por Tomás Alves, tem pela liberdade, a nota mais marcante do filme: a liberdade de imprensa, a liberdade de Portugal face à ameaça Nazi, até a liberdade dos canários dos quais cuidava.
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