Em 15 temporadas na I divisão nacional, contou somente três em que não lhe saíram mais de 10 golos do corpo. Tê-lo em campo significava ter a baliza do adversário sempre mais perto. Fernando Gomes, um dos melhores avançados da história do futebol português morreu este sábado, aos 66 anos.
Fernando Gomes semeou o que mais alegrias motiva no futebol por todos os lugares onde passou: germinado para a bola nos dragões, muitos disparos lhe saíram das botas entre 1974 e 1980, conquistado dois campeonatos nacionais. Os sobrolhos que arregalou por tantos golos marcar fizeram-no mudar-se para Gijón, então por 60 milhões de pesetas.

Peter Robinson - EMPICS
“Nunca me passou pela cabeça vencer uma Bota de Ouro e muito menos duas. Quando optei pela carreira de futebolista, o meu grande sonho era vestir a camisola do FC Porto. As coisas foram acontecendo e, olhando para trás, sinto um orgulho tremendo por ter contribuído positivamente para a história de um grande clube como o FC Porto. Creio que a minha primeira Bota de Ouro contribuiu decisivamente para o início daquilo que hoje é o grande FC Porto”, disse, em declarações ao site do FC Porto, anos depois.
O regresso à casa de partida revestiu-se de ainda maior glória: em 1987, era um dos avançados da equipa portista que se agarrou à primeira taça orelhuda da sua história, conquistado a Taça dos Clubes Campeões Europeus - azarado, lesionou-se uma semana antes da final e não pisou a relva em Viena. Na época anterior esteve com a seleção no México para o Mundial de 1986, já depois de jogar no Europeu de 1984, em França.
A proeza que o alcunhou para sempre como ‘Bibota’ dividiu-se por 1983 e 1985, anos que o laurearam com o prémio de melhor marcador europeu. Foram as épocas do seu apogeu goleador — na primeira, saíram-lhe 50 do corpo em 39 jogos e, na outra, fez 46 em 42 partidas. “A minha missão era marcar golos e eu marquei-os. Cumpri a minha missão”, foram as sucintas frases com que o FC Porto o citou, ao revelar, “com enorme tristeza e consternação”, a morte de um dos seus maiores nomes.
A última das épocas em que distribuiu por redes de baliza foi 1990/91, ao serviço do Sporting, onde preencheu o derradeiro par de temporadas da carreira. Tinha 35 voltas ao sol contadas e energia de sobra para estar em meia centena de partidas, nas quais deixou 29 golos.
A primeira época ao serviço dos leões ficou marcada pela grande penalidade falhada em Nápoles e que impediu o Sporting de passar a 1ª eliminatória da Taça UEFA em 1989/90. Mas na época seguinte, a última como jogador, ainda apontou 22 golos no campeonato e foi fundamental na carreira europeia do Sporting até às meias-finais da Taça UEFA. Assumindo que o goleador deve ser egoísta, acabaria por confessar que “se o fosse marcaria muitos mais golos”, mas que só o era “depois de a equipa ter garantido o resultado”.
Reformado dos campos, Fernando Gomes foi tendo cargos na estrutura do FC Porto, entre a formação, o scouting e administração da SAD. Era a cara recente do clube, por exemplo, nas apresentações de Relatórios e Contas, ou em sorteios de competições. Nos últimos anos, incapaz foi de fugir ao infortúnio da vida como escapara a defesas adversários e marcações alheias.
Pai de três filhos, Filipa e Martim, frutos do primeiro casamento com Silvia Gomes, e de Maria Luísa, de apenas dois anos e meio, Fernando Gomes sofrera um duro golpe há apenas dois anos, com a morte misteriosa da filha Filipa, formada em Design de Moda, aos 32 anos.
Em 2019, diagnosticaram-lhe um cancro no pâncreas e já este ano, em outubro, teve de ser hospitalizado após sofrer um enfarte. Aos 66 anos, a saúde debilitou-o. O legado que deixou no futebol perdurará sem prazo.