O futebol, como tudo, não é campo de coisas sobrenaturais, por muito que queiramos por vezes acreditar que sim. Para o bem e para o mal. Ele é feito de gente de carne e osso, que erra e faz maravilhas em igual medida. Mas há “momentos”. Momentos enquanto conceito, ou seja, um período de tempo em que uma mão invisível parece guiar as equipas como que feericamente para o sucesso ou para o resvalo.
O Sporting, esta época, está num desses “momentos”. Daqueles em que nada tende a correr bem.
Os números e as estatísticas e os gráficos de calor que quantificam aquilo que dá para ser quantificado no futebol dizem-nos que o Sporting é, esta temporada, uma equipa que até ataca mais do que no ano em que se sagrou campeã nacional. Marca mais, aparece mais vezes na área adversária. Mas se há dois anos a mão invisível parecia empurrar os leões, que atacavam pela certa, felinamente, com uma taxa de sucesso muito respeitável, por estes dias ela parece tapar os caminhos da baliza, mesmo quando o Sporting vai lá três, quatro, cinco vezes. Nada disto é muito científico, bem sei. O próprio Rúben Amorim já admitiu que há coisas que não consegue explicar. E talvez por isso mesmo esta noite, em Famalicão, se tenha visto o treinador do Sporting tão nervoso, tenso, de cócoras na linha.
Porque os primeiros minutos pareceram uma história já tantas vezes vista este ano com os de Alvalade, a última das quais na derrota frente ao Arouca ainda aqui há um par de semanas. Muito ataque, algumas oportunidades e eficácia nula. Aos 4’, Paulinho rodou bem sobre si mesmo, lançado por Porto, com Luiz Junior a travar o remate. Aos 10’, Trincão rematou ao poste. Aos 18’, Pote passou que nem faca aquecida em manteiga pela defesa do Famalicão com Luiz Junior mais uma vez a defender.
É muita oportunidade perdida e, como em jogos anteriores, a equipa pareceu sempre insegura, pronta a cair a qualquer minuto, a qualquer investida mais perigosa do Famalicão. Terríveis reminiscências.
MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA
Mas elas foram afastadas. O golo do Sporting, que o Sporting bem precisava para enxotar fantasmas, para mandar embora “o momento”, iria aparecer. Aos 42’, a pressão alta dos leões na saída do adversário surtiu efeito, com Morita a recuperar uma bola em zona alta e Trincão a confirmar o enrolado remate de Paulinho para a baliza. Pouco depois, Pote faria o 2-0 de penálti.
Mas, nisto do “momento”, parece não haver fim para os sustos. Depois de um remate perigoso de Arthur e do 3-0 ser anulado por fora de jogo de Morita, as tais reminiscências de falhanços anteriores pareceram baixar com a mesma força da chuva copiosa que caía em Famalicão. O Sporting assustou-se, o Famalicão aproveitou o terreno pesado para crescer, com Ivan Jaime a marcar num lance de insistência, que terminou com uma espécie de pontapé de bicicleta do espanhol, ajudado por um desvio de St. Juste.
E os minutos finais tornaram-se, de repente, de sofrimento, com o Famalicão instalado no meio-campo leonino, mesmo que o futebol tinha sido, essencialmente, confuso. No jogo em que mais rematou à baliza neste campeonato (10 remates), a equipa de Rúben Amorim acabou em esforço a tapar a sua.
Ainda assim, os factos são estes: há dois meses que o Sporting não vencia dois jogos consecutivos e esta é a primeira vitória em Famalicão desde que a equipa minhota voltou à I Liga. O 2.º lugar está a quatro pontos. E daqui até ao Natal, há uma Taça da Liga que o Sporting se habituou, com Rúben Amorim, a ganhar. O “momento” poderá ter uma pausa.