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Futebol nacional

O “muro invisível” entre o litoral e o interior do futebol em Portugal, onde o Villa Athletic se quis meter e “a FPF assobia para o lado”

A elite da bola nacional concentra-se quase exclusivamente perto do mar, enquanto mais para baixo na pirâmide quem habita em zonas despovoadas e envelhecidas sofre por sobreviver. O Mosteirense, da associação de futebol de Portalegre onde o recente Villa Athletic Club (que correu mal) se inscreveu para lhe ser mais fácil subir na escadaria, já rejeitou subir ao Campeonato de Portugal por três vezes por falta de capacidade financeira, enquanto o Oleiros fechou portas e o Águias do Moradal não pôde ascender devido a problemas no licenciamento. A causa? Falta de equipas de formação em zonas onde escasseiam os jovens

Pedro Barata

O Mosteirense, em 2021/22

Mosteirense

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As contas foram feitas pela direção do Futebol Clube Mosteirense várias vezes nos últimos anos. Em 2015/16, 2017/18 e 2018/19, a equipa da freguesia de Mosteiros, concelho de Arronches — vila a tocar a fronteira de Portugal com Espanha —, foi campeã distrital de Portalegre e, como prémio, veio o direito a ascender na pirâmide do futebol e disputar as competições nacionais. Mas as contas que eram feitas tinham, invariavelmente, muitos zeros à direita para um clube que vem de uma freguesia com 366 pessoas (segundos os Censos de 2021) e de um concelho com 2.789 habitantes.

Talvez ninguém tenha feito mais estas contas que não batem certo do que Fernando Martins, presidente do Mosteirense. O dirigente expõe, à Tribuna Expresso, a crua realidade. Na distrital de Portalegre, o clube tem um orçamento de €40.000. Segundo a ginástica de somar e subtrair que Fernando Martins apresenta, para conseguir manter-se “com muita dificuldade” no Campeonato de Portugal, competindo numa série cheia de conjuntos da Grande Lisboa, o presidente diz que seriam precisos, “no mínimo”, uns €250 mil, cerca de seis vezes mais do que o orçamento atual.

O Mosteirense ganhou, por três vezes nos últimos seis anos, o direito de subir aos nacionais. Por três vezes, as frias contas obrigaram o Mosteirense a abdicar da subida na distrital que apenas reúne cinco equipas e terá atraído o fundador do Villa Athletic Club, aparecido em junho, a inscrever a equipa na Associação de Futebol de Portalegre - em teoria e na prática, seria menos argilosa a tarefa de garantir a promoção ao Campeonato de Portugal, a IV divisão e a primeira que percorre todo o país.

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