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Nome inglês, treina em Lisboa, joga em Portalegre: fundado no verão, Villa Athletic tem salários em atraso e faltou ao 1.ª jogo da época

O Villa Athletic Club, treinado por Meyong e com Edinho no plantel, disputava um jogo da Taça Remax, prova do distrito de Portalegre, e entrou em campo com o equipamento do Grupo Desportivo Samora Correia e sem equipa técnica. Apesar de treinar na Grande Lisboa, o fundador inscreveu o clube numa distrital do Alentejo para “descentralizar o futebol”. Não será inocente o facto de, em épocas recentes, várias equipas terem recusado a subida aos campeonatos nacionais devido à falta de fundos

Expresso

Imagem retiradas das redes sociais do Villa Athletic Club

Villa Athletic Club

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O Villa Athletic Club, equipa de futebol de Ponte de Sor, mas que treina na Grande Lisboa, entrou em campo no domingo com equipamentos emprestados pelos ribatejanos do Grupo Desportivo Samora Correia e sem equipa técnica que orientasse os jogadores a partir do banco de suplentes. O jogo em causa referia-se à Taça Remax, prova organizada pela Associação de Futebol de Portalegre, e o adversário era o Elvas. Com apenas 12 jogadores disponíveis, o Villa acabaria por vencer os vizinhos por 0-2.

Sem equipa técnica à vista, não foi a primeira vez que o jovem clube – fundado a 14 de junho de 2022 – teve dificuldades em disputar um jogo. Na primeira jornada da mesma competição, a 9 de outubro, conta a “Rádio Portalegre”, o Villa perdeu a partida com o Gavionenses por falta de comparência.

O presidente do clube visitante, Paulo Canhão, contou que, de cada vez que um jogador se lesionava, saltava da bancada um alegado massagista para dar assistência, considerando “surreal” o que aconteceu em Elvas. Descrevendo a vitória como justa embora em circunstâncias bizarras, acrescentou que o futebol distrital “não ficou a ganhar nada” com o episódio.

Já esta terça-feira, o “Record” anuncia que quatro jogadores do Villa manifestaram o seu desagrado perante alegados salários em atraso e falta de condições. Fizeram-no à porta do Grupo Renascença, uma vez que o presidente do clube com quatro meses de vida, Fábio Lopes, conhecido como Conguito, é locutor na rádio “Mega Hits”.

O plantel do Villa conta com jogadores experientes, como Edinho ou André Carvalhas, e é, oficialmente, orientado por Meyong, antigo jogador do Vitória de Setúbal, que assistiu à última partida na bancada, alegadamente por ainda não estar inscrito. De acordo com o diário desportivo, os futebolistas já não têm treinos há três semanas, o que reforça ainda mais o clima de estranheza – e a importância da vitória – frente ao Elvas.

Edinho, o nome mais sonante do plantel, reagiu esta segunda-feira, nas redes sociais: “Ainda estou para saber quem és, Conguito. Principalmente como é possível fazeres (…) isto a 24 jogadores. (…) Há gente à espera do pagamento dos salários em atraso! Jogadores recusaram-se a ir para outros projetos, jovens despediram-se por [lhes] venderes um sonho”. O internacional português acusou ainda o presidente do Villa de ter colocado jovens jogadores “numa casa só com água fria e sem alimentação”.

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Em setembro deste ano, dois meses depois da fundação, o Villa Athletic Club anunciava-se com o objetivo de “descentralizar o futebol”. Num artigo publicado no site da “Rádio Renascença”, Fábio Lopes dizia: “Queremos mostrar que uma pessoa que nasça no Alentejo ou numa região mais despovoada do país não tem de migrar para outra zona para perseguir os seus sonhos. Essa é a ideia principal de fazer nascer o Villa”. Isto apesar de agendar os treinos para instalações desportivos à volta de Lisboa.

Para a inscrição do clube na Associação de Futebol de Portalegre - “aceitamos o Villa de braços abertos”, disse então Daniel Lopes, presidente da entidade -, contudo, não terá inocente o facto de, em épocas recentes, vários clubes que venceram a primeira divisão do distrito se terem recusado a subir ao Campeonato de Portugal (a primeira prova a nível nacional) devido a falta de fundos para cobrir os custos inerentes à participação na prova.

Meyong, oficialmente treinador do clube, dizia, aquando do anúncio da criação do clube, que o projeto lhe tinha sido apresentado “através de um amigo, que conhece um amigo de um amigo”. “Foi-me explicado e achei que tinha pernas para andar. Decidi aceitar e estamos a tentar construir uma equipa para subir ao Campeonato de Portugal no próximo ano”, afirmou o antigo avançado, que se destacou na I Liga no Vitória de Setúbal e Sporting de Braga, entre outros clubes.

A próxima partida do Villa Athletic Club está agendada para domingo, 23 de outubro, contra o FC Crato, a contar para a mesma Taça Remax de Portalegre.