Está nos estatutos: um presidente da Liga só pode ser demitido numa Assembleia Geral da Liga, com a presença dos clubes da I e II Ligas. Não era este o caso pelo que Pedro Proença só cairia se quisesse - e ele não quer sair e a sair que não seja assim.
Por isso, o líder do organismo que organiza a maior competição de futebol de Portugal espera por uma "moção de confiança" numa Assembleia Geral que ficou marcada, esta tarde, para 9 de junho, já com a Liga em (re)andamento. Proença acredita que agiu no interesse de todos e que portanto merece continuar à frente do órgão.
O dirigente põe, então, o seu destino nas mãos de uma AG onde, segundo fontes ouvidas pela Tribuna Expresso, quer propôr uma alteração do "modelo de governação" e dos "estatutos da Liga". Esta é uma posição que é defendida há muito pelo chamado grupo G-15 (os 15 clubes que não Benfica, Sporting e FC Porto), que supõe retirar poderes aos três grandes, emblemas representados, por decreto, na direção da Liga. Em 2018, Rui Pedro Soares, presidente do Belenenses SAD, chegou a falar num "Conselho de Presidentes", em que todos os emblemas teriam, à partida, os mesmos "poderes deliberativos".
A ideia de Proença é, portanto, seduzir os clubes de pequena e média gama que, com a eventual mudança de estatutos da Liga, viriam o seu... estatuto reforçado; se este votarem a favor da alteração, Proença sobrevive.
Sucede, no entanto, que os clubes, na generalidade - e como a Tribuna Expresso já tinha escrito -, estão insatisfeitos com o comportamento do ex-árbitro: grandes, médios e pequenos desgostam do modus operandi de Pedro Proença.
Em causa estão duas coisas. A primeira, a carta enviada por este a Marcelo Rebelo de Sousa a pedir ajuda financeira para que os restantes jogos da I Liga (recomeçará a 4 de junho) passassem em sinal aberto. Os clubes "sentiram-se traídos" por Proença não "lhes dar cavaco", tendo atuado por conta própria, sem consultar clubes - e também sem auscultar os operadores que detém os direitos televisivos do campeonato.
A segunda, o facto de ainda não haver calendário apresentado quando faltam apenas duas semanas para a retoma da Liga, marcada para 4 de junho. Inicialmente, seria nesta quinta-feira que tudo ficaria esquematizado - o jornal "Record" escreve que o planeamento será revelado na sexta-feira, porque, hoje, Sónia Carneiro, a diretora-executiva da Liga, se encontrava doente.
De acordo com informações recolhidas, os dirigentes dos clubes veem nestes episódios exemplos de "falta de liderança" num momento delicado como este, em que o futebol português enfrenta um cenário de contração provocado pela pandemia do novo coronavírus.
O Braga e a direção da Liga
Um do presidentes mais vocais, no arranque da reunião, foi António Salvador a quem o JN atribuiu um "pedido de demissão" de Pedro Proença. Fonte oficial do Braga diz à Tribuna Expresso que Salvador pediu a demissão, sim, mas dos clubes que pertencem à direção da Liga que é composta, estatutariamente, pelo presidente (Pedro Proença), cinco clubes da I Liga (Benfica, FC Porto, Sporting, sempre residentes; e, nesta época, Tondela e Gil Vicente) e três da II Liga (Mafra, Leixões e Cova da Piedade).
De acordo com Salvador, se os clubes nunca souberam da démarche de Proença, "não estão lá a fazer nada; e se souberam e nada fizeram, também não estão". "Nunca foi pedida a demissão de Proença", garante a mesma fonte.
Por outro lado, António Salvador garantiu que iria pedir "responsabilidades cíveis" à Liga e à direção da Liga pela "eventual não conclusão dos campeonatos". "Se foi decidido entre Governo, presidente da Federação, presidente da Liga, DGS e presidentes dos três grandes que havia espaço para concluir o campeonato, se tal não se verificar, isso representa um prejuízo para os clubes".
*Artigo atualizado às 22h30 com informações decorrentes do final da reunião