Futebol internacional

Racismo, transfobia, colegas de costas voltadas, pedidos de desculpa e castigos: a polémica dos festejos de Enzo Fernández na Copa América

Enzo Fernández, internacional argentino do Chelsea
Enzo Fernández, internacional argentino do Chelsea
Marc Atkins/Getty Images

O internacional argentino do Chelsea, e ex-Benfica, Enzo Fernández está envolvido numa polémica que já vai além do futebol. Isto após ter partilhado nas redes sociais um cântico (muito ouvido saído da boca de adeptos argentinos) de teor acima de tudo racista durante os festejos pela vitória na Copa América. Enzo desculpou-se, mas o verniz estalou no clube que por ele pagou 121 milhões de euros

Tiago Palma

Jornalista

Oiçam, espalhem a notícia, jogam por França, mas são de Angola.
Que bonito é, vão a correr, gostam de transexuais como o Mbappé.
A mãe deles é nigeriana, o pai é camaronês, mas nos documentos,
nacionalidade: francês

O cântico, de teor racista, começou por ser ouvido no Mundial do Catar, em 2022, competição na qual a Argentina derrotou (nos penáltis) a França na final e se sagrou campeã. Dos “hinchas” e das bancadas, o suposto cântico de apoio, também com uma provocação transfóbica à alegada relação de Kylian Mbappé com a modelo trans Ines Rau, acabou por saltar para o balneário argentino, tendo diversos jogadores, após a vitória na Copa America, entoado tais palavras durante os festejos num live no Instagram.

No centro da polémica, e embora do plantel argentino façam igualmente parte Ángel Di María e o capitão benfiquista Nicolás Otamendi, está o ex-Benfica (atualmente jogador do Chelsea) Enzo Fernández, que partilhou um vídeo nas redes sociais a bordo do autocarro em que, em tom festivo, vários atletas cantam estas palavras.

Ora, não tardaria a que a polémica espoletasse e gerasse indignação, reações e consequências. Por enquanto, somente para Enzo.

Desde logo, a Federação Francesa de Futebol anunciou que irá apresentar uma queixa formal à FIFA, por “comentários ofensivos de natureza racial e discriminatória”, exigindo também explicações, por carta, à homóloga argentina. Ainda do lado francês, a ministra do Desporto, Amélie Oudea-Castera, declarou o comportamento “patético” e inaceitável”, relembrando que é “repetido” e questiona se a entidade que regula o futebol mundial vai ter “alguma reação”.

Colega de equipa de Enzo no Chelsea, o internacional francês Wesley Fofana, nascido em Marselha mas com origens marfinesas, acusou na rede social X (antigo Twitter) o médio argentino de propagar, através do cântico e da partilha do vídeo, “racismo descomplexado”.

Ele, Fofana, tal como, entre outros, Malo Gusto e Axel Disasi, também defesas franceses e negros do Chelsea, deixaram mesmo de seguir Enzo Fernández nas redes sociais.


Face à tensão evidente no balneário, o Chelsea, que pagou ao Benfica 121 milhões de euros por Enzo em 2023, informou em comunicado que “considera todas as formas de comportamento discriminatório completamente inaceitáveis”. Assim, e orgulhando-se de ser um clube “diverso e inclusivo”, os londrinos instauraram um procedimento disciplinar interno contra Enzo Fernández.

O jogador, por sua vez, também já tentou amenizar o problema criado. Através de um comunicado, em inglês, publicado nas redes sociais, o médio argentino pediu “sinceras desculpas” pelo vídeo que publicou durante as celebrações argentinas, admitindo que o cântico da polémica “inclui linguagem altamente ofensiva” e que “não há absolutamente nenhuma desculpa para estas palavras”.

O Chelsea diz apreciar o pedido de desculpas público do jogador, feito ainda antes da reação do clube, mas que irá usar o caso “como uma oportunidade para educar”.

Enzo, que se diz “contra qualquer tipo de discriminação”, lamentou ter-se “deixado levar na euforia” dos festejos pela conquista da Copa América e o que fez, e cantou, “não reflete” as suas “crenças ou caráter”. Pelo sucedido, Enzo pede, pois, “desculpas” e apresenta o seu profundo “lamento”.

A FIFA abriu entretanto um inquérito na sequência do caso e diz que o incidente “está a ser investigado”, lembrando o organismo que “condena firmemente todas as formas de discriminação por parte de qualquer pessoa, incluindo jogadores, adeptos e dirigentes”.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tpalma@expresso.impresa.pt