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Kylian Mbappé chegou a Madrid, onde parece sempre ter tido um lugar reservado à mesa: "Dormi muitos anos com o sonho de jogar pelo Real”

Kylian Mbappé chegou a Madrid, onde parece sempre ter tido um lugar reservado à mesa: "Dormi muitos anos com o sonho de jogar pelo Real”
Diego Souto
A apresentação do francês como novo jogador do Real Madrid teve como objetivo inicial fazê-lo sentir-se pequeno ao lado das 15 Ligas dos Campeões do palmarés dos merengues. Depois, Florentino Pérez deu-lhe os parabéns por ter concretizado o sonho de jogar pelos blancos. À frente de 85 mil pessoas, Mbappé falou num espanhol que não começou a ser aprendido ontem para prometer “dar a vida” e “estar à altura da história do clube”

Beijar o símbolo é um gesto que exige cautela. O adepto, eterno fiel ao emblema, tem de sentir que o jogador o faz com o coração e não com a boca. É, portanto, uma prática a evitar no primeiro dia no novo local de trabalho. Só que Kylian Mbappé quis arriscar. Amarfanhou a camisola com o número nove serifado e picotou-a com os lábios. A multidão aceitou bem a demonstração de amor.

“Como uma família, vamos gritar Hala Madrid! 1... 2... 3...”. Os participantes na romaria responderam-lhe, como em tempos responderam a Cristiano Ronaldo ao mesmo pedido. Apesar de Mbappé estar a ser apresentado oficialmente como reforço, não há quem não conheça a sua cara. Para o francês, foi como se sempre tivesse tido um lugar reservado para se sentar à mesa. “Dormi muitos anos com o sonho de jogar pelo Real Madrid e hoje esse sonho realiza-se. Hoje, sou um chico muito feliz”.

O desejo de ver Kylian Mbappé com a camisola do Real Madrid foi manifestado em infindáveis manipulações de imagem que o equipavam com a vestimenta blanca. Desta vez, não é Photoshop. O trabalho imaginativo dos designers foi substituído pelo dos fotógrafos que, de objetiva afinada, tiveram oportunidades múltiplas de fazer pontaria ao francês com este a ostentar o manto merengue.

O Estádio Santiago Bernabéu encheu-se de caçadores de momentos e não só. Um amontoado de 85 mil pessoas usurpou os bilhetes gratuitos que valiam um assento na bancada. Consta que houve até quem tenha, por vias alternativas, tentado lucrar com eles. A neve das camisolas do Real Madrid caiu sobre a bancadas de um recinto de cobertura fechada para uma cerimónia de acolhimento mais intimista.

O dia de Mbappé começou com exames médicos. Um nariz a recuperar de uma fratura realizada no Euro 2024 não é problema que, a longo prazo, o possa impedir de cumprir os cinco anos de contrato. Tratou-se depois da papelada entre o avançado e o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, a assinou-se o contrato que dá início à ligação de um dos maiores clubes do mundo com um dos melhores jogadores do mundo.

Além dos adeptos, em cadeiras instaladas no relvado, em frente ao palanque destinado aos discursos, posicionaram-se figuras ilustres do universo madridista, “lendas que fizeram o mito que é o Real Madrid”, nas palavras de Florentino Pérez. O presidente merengue referiu que o “estádio continuará a desfrutar dos melhores do mundo” e que aquele “momento histórico” serviria para apresentar um “jogador excecional” contratado para o clube “continuar a ganhar” e alargar o “maior palmarés da história” do futebol. “Conseguiste o teu sonho, porque nunca te rendeste. Estás aqui porque tu quiseste. Obrigado por fazeres um esforço, que muitos não imaginam, para que pudesses vestir esta camisola”.

A voz de Luciano Pavarotti a cantar “Nessun Dorma” embalou um vídeo que fez Mbappé sentir-se pequeno. A voz de tenor acompanhou imagens icónicas do clube. Os 15 troféus da Liga dos Campeões de que o Real Madrid é proprietário encararam o internacional gaulês quando subiu ao relvado e fizeram-no sentir-se pequeno. O que pode um clube com todas estas peças de museu querer de um jovem de 25 anos?

Mbappé prometeu “dar a vida” em troca do seu espaço no Real Madrid. “Tenho outro sonho para cumprir que é estar à altura da história deste clube”. Já com um Mundial, mas ainda sem qualquer Liga dos Campeões, terá que ganhar alguns centímetros. E finalizou o discurso num espanhol que não começou a ser aprendido ontem: “Não vou falar muito se não começo a chorar”.

O futebol espera muito de Mbappé. Ter chegado ao Real Madrid e ser recebido com tamanho aparato não é um visto de permanência vitalícia em Espanha. Mas se é o ponto mais alto da carreira do jogador, sobre isso ninguém tem permissão para levantar o braço com dúvidas.

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