Carlos Carvalhal vai sair do Olympiakos porque a direção, liderada pelo dono da SAD do Rio Ave, queria interferir na escolha da equipa
Octavio Passos/Getty
O treinador está a negociar a sua saída com a direção do clube grego após esta ter pressionado Pedro Alves, ex-diretor-desportivo que chegara ao Olympiacos em novembro, mesmo mês em que contratou Carlos Carvalhal, para certos jogadores não perderem protagonismo na equipa. Isto após um mercado de inverno em que foram contratados sete futebolistas portugueses ou com ligação a Portugal
Que o Olympiacos não é, propriamente, o clube mais estável do universo, surpreenderá cerca de zero pessoas que prestem um coche de atenção às periferias do futebol europeu. Um gigante na Grécia, espanta o clube de Atenas ser colecionador de 47 campeonatos, de longe a maior barriga de títulos no país, face ao animado jogo da cadeira que parece nortear a sua vida: nos últimos 30 anos, trocou 36 vezes de treinador e apenas cinco mantiveram o assento quente durante mais do que uma época. Nesse instável poiso que neste período até foi com um português que partilhou mais tempo, não será Carlos Carvalhal a adensar essa lista.
Contratado de fresco, em novembro, para comandar a equipa, o técnico está a negociar a saída do Olympiacos ao fim de apenas 10 jogos porque experimentou na pele os efeitos da volatilidade de Evangelos Marinakis, o excêntrico presidente do clube. Mas não tanto como Pedro Alves, outro português chegado a Atenas no mesmo mês para ser diretor-desportivo e que orquestrou a contratação do treinador, de 58 anos. Foi ele, contaram à Tribuna Expresso, que a direção do clube ‘pressionou’ para puxar uns cordelinhos de influência sobre Carlos Carvalhal de modo a alguns jogadores não perderem protagonismo na equipa após as mexidas no mercado de inverno e essa postura precipitou o furacão.
Pedro Alves recusou fazê-lo, não gostou da atitude da direção, o relacionamento entre quem manda no clube e a pessoa que gere o projeto desportivo azedou e o português, antigo dirigente do Estoril Praia (entre 2018 e 2023), decidiu sair. Na segunda-feira, sem mencionar o seu nome, o Olympiakos anunciou Darko Kovacevic como novo diretor-desportivo, outra marca de instabilidade - é a terceira pessoa a assumir o cargo esta época. De repente, o atual 4.º classificado da liga grega trocou de mente para pensar o seu futebol uma semana após fechar o mercado de inverno que fez chegar oito jogadores.
Cinco são portugueses (Gelson Martins, Chiquinho, David Carmo, André Horta e Rúben Vezo), um foi por empréstimo (Jovane Cabral) do Sporting e outro cedido (Fran Navarro) pelo FC Porto. A preferência pelo mercado nacional, com um diretor-desportivo e um treinador fartos de o conhecer, era compreensível. O imbróglio agora surgido também é óbvio: uma série de jogadores foram contratados por um técnico para uma ideia de jogo e uma visão de impacto que vão deixar Atenas muito em breve. Vindos todos eles a pedido de Carlos Carvalhal, três foram titulares (Carmo, Chiquinho e Navarro) no último jogo, um dérbi da capital grega perdido (2-0) para o Panathinaikos em que também jogaram André Horta e Daniel Podence. A par do médio João Carvalho, o avançado era um dos portugueses que já estavam no plantel.
Apesar da conhecida pouca duração dos treinadores no Olympiacos, Carlos Carvalhal foi o sexto português a aceitar a aventura. A porta foi aberta por Leonardo Jardim, em 2012, seguido de Vítor Pereira (cinco meses durante 2015), Marco Silva (11 meses entre 2015 e 2016) Paulo Bento (seis meses em 2016 e 2017) e Pedro Martins, o caso raro na história do clube por se ter mantido no cargo durante pouco mais de quatro anos, com uma pandemia incluída. Com 219 jogos, saiu com a maior longevidade na história do Olympiakos e, de longe, a ostentar o feito de ser quem conviveu durante mais tempo com Evangelos Marinakis, homem que já diz bastante ao futebol português.
E não por, desde 2010, ter contratado meia dúzia de treinadores nascidos em Portugal. Foi nesse ano que o filho de um dos 11 empresários navais que compraram o Olympiakos, no final da década de 1970, assumiu o controlo do clube e o passou a gerir à bolina de um feitio percecionado como volátil. E polémico, também. Nestes 14 anos, vários casos na justiça grega visaram Marinakis por suspeitas de tráfico de droga, esquemas ilegais de apostas desportivas, tentativa de influenciar árbitros e difamação. O empresário seria absolvido de todas as alegações, mas a sua reputação persegue-o que nem sombra.
Com ela se acercou, em novembro último, do Rio Ave, que buscava investidores que lhe solucionassem problemas financeiros e encontrou em Marinakis uma boia de salvação. Os custos em dinheiro, aprovados pelos sócios do clube de Vila do Conde, implicaram o pagamento de 20,5 milhões de euros para ser constituída uma SAD e o grego ficar com 80% do capital. Ou seja, com uma mãozinha de Jorge Mendes a mediar o negócio (presença então assumida por Alexandrina Cruz, presidente do Rio Ave), ficou como dono do clube, tal como se apoderou do Nottingham Forest, hoje da Premier League, por cerca de €57 milhões.
É este o homem que preside à direção do Olympiakos que tentou interferir na escolha de quem jogava ou não na equipa principal.