Em março, o caso Negreira abalou o futebol espanhol e europeu. Entre 2001 e 2018, o Barcelona pagou, através de uma empresa, €7,5 milhões a José Enríquez Negreira, então vice-presidente do comité técnico de árbitros do país.
Quando o caso veio a público, Joan Laporta, atual presidente dos catalães e também responsável máximo do emblema entre 2003 e 2010 — portanto, durante o período em que os pagamentos foram feitos —, garantiu que tudo se tratava de uma “campanha” contra os culés, tese que ainda defende. A posição oficial do Barcelona era que os €7,5 milhões eram a contrapartida por relatórios feitos por Negreira sobre os árbitros que iam arbitrar as partidas do clube, ajudando assim a preparar os encontros segundo os critérios específicos de cada um.
No entanto, segundo Joaquín Aguirre, juiz de instrução a quem o caso está entregue, a questão é diferente. O Barcelona foi formalmente acusado de suborno na sequência destes pagamentos ao antigo dirigente dos árbitros.
Segundo Aguirre, “não é preciso provar que houve adulteração de jogos” para que o delito exista, o que vai contra a grande tese de defesa do Barça, que entende que só haveria um crime caso se demonstrasse que os pagamentos resultaram em benefício direto para o clube na disputa dos seus encontros. “O suborno consumou-se com a realização dos pagamentos, provou-se ou não a corrupção sistémica da arbitragem espanhol devido a tais pagamentos”, defende o juiz.
Uma das funções de Negreira era controlar o sistema de avaliação dos árbitros. Além do antigo dirigente e do Barcelona, também Josep Maria Bartomeu, presidente do clube entre 2014 e 2020, Sandro Rosell, presidente entre 2010 e 2014, e o filho de Negreira estão acusados de suborno.
Negreira, Rosell, Bartomeu e os antigos dirigentes do Barcelona, Albert Soler e Òscar Grau, são ainda acusados de corrupção de negócio na modalidade de fraude desportiva, de administração desleal e de fraude na documentação mercantil.
Buscas na sede dos árbitros e a UEFA à espera
Após se ter conhecido esta acusação, a sede do comité técnico de árbitros, localizada na cidade desportiva da federação espanhola, foi alvo de buscas por parte das autoridades.
Javier Tebas, presidente da La Liga, já reagiu aos recentes desenvolvimentos, mas parecendo aderir mais à tese do Barcelona: “Terá de ser esclarecida qual era a intenção, não vejo outra opção. Os indícios não são suficientes, é preciso comprovar se a intenção existia”, comentou.
Já o treinador dos campeões espanhóis, Xavi Hernández, repetiu o que vem dizendo sobre o caso. O antigo jogador, que era uma das figuras dos culés durante boa parte do período em causa, garante que “nunca” teve a sensação de “ser beneficiado em campo” pelos árbitros.
A UEFA, desde o primeiro momento, tem estado atenta à situação. Aleksander Ceferin, presidente da entidade máxima do futebol europeu, classificou, logo em março, o caso como “muito grave”.
Em julho, a UEFA admitiu “de forma provisória” a participação do Barça nas competições europeias. Num comunicado publicado na altura, a entidade reservou-se “a uma futura decisão” sobre a entrada dos catalães na Liga dos Campeões, Liga Europa ou Liga Conferência. Caso o processo avence, de Nyon poderão surgir sanções para os blaugrana.
