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A dificuldade de ser Tottenham: jogadores reembolsam adeptos que assistiram aos 6-1 em Newcastle, clube volta a despedir treinador

Cristian Stellini, o adjunto de Conte feito técnico interino, só durou 29 dias no cargo, saindo após a dura goleada da passada jornada da Premier League, a qual levou os jogadores a tentarem compensar os adeptos. Para substituir Stellini, foi nomeado Ryan Mason, outro interino que fazia parte da anterior equipa técnica, contribuindo para a instabilidade de um clube que pode perder Harry Kane

Pedro Barata

Clive Brunskill/Getty

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A 26 de março, o Tottenham decidiu despedir Antonio Conte. Para o lugar do italiano, Cristian Stellini foi nomeado treinador interino, saindo da equipa do técnico que acabava de ser despedido para assumir papel principal na liderança dos spurs.

A 24 de abril, o Tottenham decidiu despedir Cristian Stellini, o antigo adjunto de Conte feito interino durante menos de um mês. Para o lugar do italiano, Ryan Mason foi nomeado treinador interino, saindo da equipa do técnico que acabou de ser despedido para assumir papel principal na liderança dos spurs.

Confuso? Talvez seja, porque quiçá seja esse o adjetivo para descrever o estado atual dos londrinos. Ah, há dois anos, Ryan Mason já substituíra José Mourinho dias antes da final da Taça da Liga, terminando a época 2020/21 como treinador interino.

De treinador interino em treinador interino, nos intervalos das conturbadas eras de Conte ou Mourinho, ganhadores em todo o lado menos no Tottenham: assim vão os spurs, em quinto na Premier League, com apenas duas vitórias nas últimas nove partidas e sem possibilidades de vencer qualquer título, aumentando um jejum de troféus que dura desde 2008.

Cristian Stellini só foi treinador interino do Tottenham durante quatro jogos

Cristian Stellini só foi treinador interino do Tottenham durante quatro jogos

Clive Brunskill/Getty

No final de março, depois de uma conferência de imprensa estrondosa, em que criticou a mentalidade do clube, a incapacidade dos jogadores em lidarem com a pressão e a era Daniel Levy, presidente dos spurs, Antonio Conte foi despedido. Apesar das exibições pouco entusiasmantes e das recentes eliminações na FA Cup e na Liga dos Campeões, o Tottenham era quinto, a um ponto do quarto lugar que dá acesso à Champions, mas com menos uma jornada disputada. Agora, essa posição está a seis pontos de distância, só que o Manchester United, ocupante do milionário lugar, tem menos duas rondas realizadas.

Para substituir Conte, a direção de Levy optou por Stellini, um membro da anterior equipa técnica que foi nomeado treinador interino. A experiência de Stellini não o colocava como óbvio candidato a levar uma equipa a terminar entre os primeiros da Premier League. Antes de se sentar no banco do Tottenham, o italiano só dirigira, enquanto responsável máximo, o Alessandria, no terceiro escalão do seu país, durante apenas 16 desafios, dos quais ganhou somente três.

Após 29 dias, a era Stellini acabou depois da goleada (6-1) sofrida em Newcastle, na segunda derrota seguida, as quais se seguiram a dois empates e somente um triunfo. Na deslocação ao norte de Inglaterra, o italiano surpreendeu, já que, após muitos meses com uma defesa de três centrais e dois alas, apresentou um Tottenham com uma linha de quatro. Pedro Porro, na direita, e Perisic, na esquerda, não esconderam o desconforto, e aos 21' o marcador já apresentava um 5-0.

Para tentar acalmar os ânimos dos adeptos, os jogadores anunciaram que irão reembolsar os adeptos que viajaram até Newcastle, pagando-lhes os bilhetes do jogo.

Daniel Levy, presidente do Tottenham

Daniel Levy, presidente do Tottenham

Andrew Matthews - PA Images/Getty

Daniel Levy, o cada vez mais criticado presidente dos spurs, classificou a prestação contra o Newcastle como “inaceitável” e “devastadora”. A reação foi trocar o interino Stellini, vindo da equipa técnica anterior, pelo interino Ryan Mason, vindo da equipa técnica anterior.

Mason, de 31 anos e antigo jogador do Tottenham — retirou-se muito cedo devido a uma lesão na cabeça, provocada por um choque com Gary Cahill, do Chelsea —, já fora técnico interino em 2020/21, então orientando os sete últimos compromissos da campanha depois da saída de José Mourinho.

Há não muito tempo, os spurs pareciam quase um clube modelo. Um plantel jovem e cheio de valor, um treinador (Pochettino) vanguardista, uma equipa a competir com os maiores tubarões. Presença constante no topo da Premier League, finalistas da Liga dos Campeões em 2018/19, um moderníssimo estádio a caminho.

Agora, esse passado não tão distante assim soa a outra vida. Harry Kane, a maior figura da era moderna do clube, termina contrato em junho de 2024 e multiplicam-se as notícias que dão conta da sua vontade de mudar de ares para tentar lutar por títulos. O capitão da seleção inglesa, um dos principais avançados da última década, nunca ganhou um troféu como jogador profissional.

Fabio Paratici, diretor de futebol do Tottenham, demitiu-se na semana passada depois de ter sido rejeitado um recurso para travar a suspensão de 30 meses que lhe foi imposta devido a irregularidades contabilísticas cometidas enquanto estava na Juventus. Levy, pessoalmente encarregue de liderar a contratação de um novo treinador, reuniu-se com um “comité de jogadores” para analisar a situação. O grupo foi composto por Hugo Lloris, Harry Kane, Eric Dier e Pierre-Emile Hojbjerg.

Há um certo tom cíclico a rodear as últimas temporadas do Tottenham. A contratação de um treinador de grande prestígio revela-se falhada, com este a ir-se embora entre críticas à mentalidade do clube. Sucede-lhe um interino, que talvez seja sucedido por outro interino, adicionando mais camadas de ciclicidade a esta dificuldade de ser Tottenham. Outra vez sem títulos e, quem sabe, sem Harry Kane para o futuro, a posição dos spurs no lago dos tubarões que é a Premier League agrava-se.