O drama do Chelsea pode ser explicado de variadíssimas maneiras. Uma delas é esta: os primeiros cinco jogos de Enzo Fernández em Londres, porventura a movimentação mais fabulosa do mercado de inverno, foram dois empates (Fulham, West Ham) e três derrotas (Dortmund, Southampton, Tottenham). Um anónimo e desolador 10.º lugar colocava em xeque coisas várias, nomeadamente a natureza do projeto dos novos proprietários e um lugar nas competições europeias da próxima temporada.
Afinal, só em janeiro foram contratados oito futebolistas a troco de 329,5 milhões de euros (engloba-se aqui o empréstimo milionário de João Félix). Contando com o verão, dos cofres dos blues, campeões da Europa há pouco mais de ano e meio, voaram €611 milhões (balanço total: -€543,66 milhões). Graham Potter chegou ao Stamford Bridge com aquele ar de midas, não por vaidade própria, mas sim pelo belo legado que construiu no Brighton. Era tido, para alguns, como um candidato fortíssimo para selecionador inglês.
Depois de uma fugaz fase positiva, com três vitórias seguidas e qualificação para os quartos de final da Liga dos Campeões, que obrigou à convocatória de sorrisos, refundou-se o marasmo. Potter, o segundo treinador da época ali, não resistiu à derrota caseira com o Aston Villa e foi despedido. O espanhol Bruno Saltor, o treinador interino (e ex-adjunto de Potter), já esteve no banco no empate contra o Liverpool, na terça-feira, um jogo em atraso pertencente à jornada 8.
Olhando para a ficha de resultados do Chelsea, as manchas vermelhas (derrotas) e as intermitências são imensas. São 14 derrotas e 10 empates em 39 jogos. Os golos denunciam o desastre: 41 golos marcados, 41 golos sofridos. Na Premier League contam-se apenas 10 vitórias em 29 jornadas, onde sofreu mais golos do que marcou (29-30).

James Williamson - AMA
Por estes dias, o debate girava à volta do treinador, pois claro. Todd Boehly e o consórcio que manda agora no Chelsea – depois do afastamento de Roman Abramovich na sequência das sanções após invasão do exército russo na Ucrânia – estariam a ter e a agendar reuniões várias importantes para definir o alvo. O “The Guardian” chegou a escrever que Rúben Amorim era desejado para uma dessas reuniões de palpação do terreno. O português disse estar feliz no Sporting e que para o levarem dali será preciso pagarem a cláusula de rescisão. Lembrando André Villas-Boas, essa não seria a tarefa mais hercúlea do mundo.
Mas havia mais hipóteses. Luis Enrique, ex-selecionador espanhol, estaria em Londres para se encontrar com os donos do Chelsea. Julian Nagelsmann, Mauricio Pochettino e Oliver Glasner estão sem clube e poderiam também eles transformar-se em sérios candidatos a assumir o cargo. Antonio Conte, acabadinho de sair do Tottenham, também foi tido em conta para um regresso que parecia altamente improvável.
Mas esta novela tem muitas vidas e dá cambalhotas várias, por isso a direção optou pelo regresso, esse sim super improvável, de Frank Lampard para treinador interino, sucedendo assim ao interino Saltor, para segurar as pontas até ao final da temporada. O “The Athletic falava desde quarta-feira num princípio de acordo entre ambas as partes, com Lampard, que ali jogou entre 2001 e 2014 e que esteve no estádio no último jogo contra o Liverpool, a ser acompanhado por Ashley Cole, Joe Edwards e Chris Jones.
Está decretado o regresso da lenda, que viveu muitos especiais com José Mourinho. Frank Lampard treinou o Chelsea duas temporadas, em 2019/20 e 2020/21, depois da experiência no Derby County. “Estou imensamente orgulhoso por voltar ao Chelsea como treinador principal”, disse na altura quando foi apresentado. “Toda a gente sabe do meu amor por este clube e a história que partilhámos, no entanto, o meu foco está no trabalho que temos em mãos e em preparar a época que aí vem." O casamento seria desfeito dois anos depois.

Lampard e Ashley Cole no Everton
Tony McArdle - Everton FC
Na primeira temporada, em 2019/20, os blues terminaram na quarta posição, a 33 pontos do campeão Liverpool, com quem havia perdido, no início da época, a Supertaça Europeia. Estranhamente, a equipa de Lampard registou a pior defesa da primeira metade da tabela da Premier League – 54 golos sofridos em 38 jogos. Na Champions, os londrinos foram atropelados pelo Bayern Munique (3-0, 4-1). O Chelsea perdeu ainda a final da Taça de Inglaterra contra o Arsenal de Mikel Arteta.
Na segunda época como treinador do seu querido clube, Lampard seria dispensado em janeiro, substituído por Thomas Tuchel, que conquistaria no final dessa temporada a Liga dos Campeões, caindo também ele na final da Taça de Inglaterra (vs. Leicester).
O agora treinador interino do Chelsea estava sem clube desde janeiro, altura em que foi despedido do Everton, onde nunca mereceu uma aura especial. Ao regressar ao Stamford Bridge, mesmo que com o estatuto de interino, terá aqui uma oportunidade gigante para relançar a carreira de treinador, que se distancia cada vez mais da carreira como futebolista.
O Chelsea, o 11.º classificado da Premier League, volta a entrar em campo contra o Wolves, no sábado. Na semana seguinte terá a primeira mão dos quartos de final contra o Real Madrid.