Há quatro anos a jogar no Antalyaspor, Fredy soube do terramoto que esta segunda-feira abalou o sudoeste da Turquia e parte da Síria, por um telefonema da mulher, às sete da manhã portuguesas.
“Não senti nada, mas no centro da cidade houve quem o sentisse. Quando a minha mulher ligou fiquei espantado por estar a acordar tão cedo. Ela começou a falar de um terramoto, foi quando liguei a televisão e comecei a ver as notícias”.
A família de Fredy estava em Portugal devido a outro fenómeno da natureza, um nevão que caiu em Istambul e impediu o voo de regresso à Turquia, no domingo, véspera do sismo de 7.8 magnitude que já provocou mais de 7000 mortos. “Acabou por ser bom, porque assim não tive de estar preocupado com a segurança deles, como outros colegas meus", realça o médio de 32 anos.
Chamado ao clube esta manhã para reunir com os restantes quatro capitães e a direção do clube, Fredy contou à Tribuna Expresso que “surpreendentemente a federação já marcou jogo para dia 17”, pelo que o treinador não pode deixar os jogadores estrangeiros à vontade para levarem as suas famílias para os países de origem, caso o que quisessem fazer. “A verdade é que a partir de amanhã [quarta-feira] voltamos aos treinos, à normalidade. Ele deixou ao critério de cada um, não vai impedir que o façam, mas lembrou haver jogo dentro de 10 dias”, adianta, para acrescentar que “há já muitas equipas a ir para Antalya, para estagiar, porque teoricamente é uma cidade segura”.
O jogador de origem angolana confessa que o seu próprio estado de espírito “é muito mau”. “Acabamos por nos envolver na situação. Tenho um colega, o Cemali, que é de Hatay e teve de viajar logo para lá porque perdeu pessoas queridas. Felizmente os pais dele estão bem, mas alguns familiares e amigos que cresceram com ele, perderam a vida. Agora não consegue sair da cidade, está fechada durante pelo menos 48h”.
Fredy revela que já teve contacto com Rúben Ribeiro, jogador português do Hatayspor e que este lhe contou que “teve de saltar da janela de casa, porque as paredes começaram a rachar”. Sem saber em que andar ele vivia, por não conseguirem falar durante muito tempo devido à pouca rede em Hatay, o médio garante que Rúben Ribeiro não se magoou.
Adiantou ainda que o diretor-desportivo do Hatay estava desaparecido até meio desta tarde e que 15 jogadoras de voleibol faleceram. “Há alguns grupos de jogadores de várias modalidades que continuam desaparecidos”, informa, esclarecendo que falou também com Wilson Eduardo, a jogar na cidade de Alany, onde também sentiram o terramoto, mas sem qualquer tipo de danos.
Fredy diz estar psicologicamente afetado e em “sistema de alerta”, porque “nunca se sabe quando pode vir outra coisa parecida”, mas confessa que o que mais o tem afetado são as imagens que já viu e os relatos que ouviu.
O clube decidiu ajudar e já iniciou uma campanha de angariação de dinheiro, com os jogadores a serem os primeiros a darem o exemplo. “Cada jogador vai doar um X para enviarmos um camião cheio de materiais e bens essenciais, como roupa, mantas, comida, águas, etc”, explicou o médio que enquanto falava com Tribuna Expresso, ao telefone, estava num centro comercial a comprar roupas e comida, por iniciativa própria, para enviar.
Com contrato até 2024, o jogador que fez toda a formação no Belenenses, espera cumprir o contrato até ao fim, até porque, realça, os fenómenos naturais podem ocorrer em qualquer lado e geralmente são imprevisíveis. Quanto à mulher e filhos, têm viagem marcada para a Turquia no próximo fim de semana, mas tudo dependerá do desenrolar dos acontecimentos.