Mais ou menos forçado, com maior ou menor insistência de perguntas, a associação de José Mourinho ao cargo de selecionador nacional não é inédita, tão pouco rara. Ter como provável que acabará por ser o responsável da escolha, de tempos a tempos, dos melhores jogadores portugueses disponíveis é culpa do que foi dizendo ao longo da carreira. Como em 2008, na sua década mais titulada, aquando de uma entrevista a campanha da Ford: “Quero ter a experiência de treinar o meu país um dia. Gostava que a minha família se sentisse orgulhosa e tenho a certeza de que vai estar um dia muito orgulhosa quando me tornar o técnico da seleção nacional”.
Regressada que está a comitiva de Portugal do Mundial do Catar, após a derrota contra Marrocos nos quartos de final, eis uma repetida notícia que dá conta de José Mourinho como possível sucessor de Fernando Santos - já acontecera em 2010, nos tempos em que Carlos Queiroz abandonou o cargo. Esta terça-feira, o diário “Gazzetta dello Sport” avançou que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) terá entrado em contacto com o atual treinador da AS Roma sobre a hipótese de ser o próximo selecionador nacional, mas com um twist.
Escreve o jornal italiano que os responsáveis da entidade terão sondado Mourinho com a possibilidade de desempenhar a função em simultâneo com o cargo que tem no clube romano. Ou seja, uma suposta coexistência de tarefas que, em 2010 e ainda no Real Madrid, o anterior presidente da FPF, Gilberto Madaíl, também lhe propôs. À época, Florentino Pérez não autorizou a junção de responsabilidades apesar da vontade do português em aceitá-las. Mais tarde, contudo, Mourinho reconheceria que teria sido um erro. “Depois disso refleti e tenho de concordar que não seria possível desempenhar as duas funções ao mesmo tempo. Nem sequer é ético ter dois trabalhos quando há tantos treinadores desempregados. Não é aceitável”, diria o treinador, à BT Sport, em 2014.
Essas declarações foram há oito anos, mais antigas do que as proferidas por Mourinho, entretanto, em 2020. Ainda era treinador do Tottenham, clube que orientou antes de chegar à AS Roma no verão de 2021. “No futebol acho que nunca se pode dizer: desta água não beberei. Nunca se sabe muito bem o que vai acontecer. Saí de Portugal em 2004 e ainda não voltei. Há quem espere que eu um dia volte para treinar a seleção portuguesa e eu nem consigo dizer que sim ou não”, disse, enigmático, à Fox Sports do Brasil, somente em relação à hipótese de vir a tomar conta dessa responsabilidade.
A Tribuna Expresso questionou a FPF sobre a veracidade da notícia da “Gazzetta dello Sport”, não obtendo resposta. Mas, pelo cariz do que foi avançado e face à postura assumida, em tempos, por José Mourinho, coexistir como selecionador nacional e treinador de um clube não deverá ser algo que o português possa vir a aceitar.
No sábado e ainda no estádio onde Portugal perdeu frente a Marrocos nos quartos de final do Mundial, Fernando Santos revelou que iria conversar com o presidente da federação, Fernando Gomes, quando regressasse a Lisboa: “Essas questões de apresentar demissões nem se colocam. Já disse, como sempre eu e o presidente sempre falámos sobre este assunto, estou aqui desde 2014 e sempre falámos, essas questões de demissões não fazem parte o meu léxico, nem do presidente.”