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Andrés Iniesta recorda lesão grave de 2020: “O dia em que deixar o futebol será duríssimo. Vou chorar muito”

O antigo craque do Barcelona esteve perto de deixar a carreira em 2020, após uma lesão que o perseguiu como um fantasma, agitando a bandeira do fim da linha. Está prestes a sair um documentário que conta a história do sofrimento de um dos magos de Camp Nou, que em 2009, admitiu em tempos, sofreu também com uma depressão

Expresso

Quality Sport Images/Getty

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Andrés Iniesta celebrizou-se ao serviço do Barcelona, com Guardiola ao leme de uma equipa imparável, não apenas nos resultados como no futebol perfumado que praticava. Também foi herói de Espanha no Mundial da África do Sul, de má memória para Portugal, que caiu precisamente frente aos espanhóis. Numa longa entrevista ao jornal “El Mundo”, Iniesta fala também de coisas difíceis, que lhe iam acabando com a carreira, nomeadamente a lesão grave que sofreu em 2020. Tudo isto antes da estreia documentário sobre o percurso do médio.

Aos 38 anos, Iniesta continua a jogar, no Vissel Kobe, do Japão. Embora lhe custe falar de um final de carreira que chegará, mais tarde ou mais cedo, é inevitável tocar num dos piores momentos do seu caminho até hoje. Na marcação de um penálti, a 10 de dezembro de 2020, Iniesta lesionou-se e ficou cinco meses parado. Menos mal. Chegou a prever-se o fim de linha para um dos mais brilhantes jogadores da sua geração.

Por tudo o que passou, o jornalista de “El Mundo” quer saber como ele está. E ele responde: “A terminar a época. (…) A equipa esteve o ano todo na parte de baixo da tabela classificativa, mas, no fim, conseguimos”. Mas não é bem isso que se depreende da pergunta básica. Aquando da lesão, jogava-se a Liga dos Campeões da Ásia, numa bolha, criada no Catar. No jogo anterior ao do penálti fatídico – que exigiu marcar –, Andrés já tinha sentido um incómodo.

Só mais tarde Iniesta teve de ceder à dura realidade. “Sim, tive medo, pânico… Senti-me mal. Sentia pânico de enfrentar a operação. (…) Era uma lesão (…) muito grave”, admite o futebolista, que acrescenta: “Se as coisas tivessem corrido mal na recuperação, quando já tens esta idade e surgem estas dificuldades, vês acenar o dia de deixar o futebol. E isso dava-me pânico”.

Já bem entrado nos trintas, o antigo jogador do célebre tiki taka catalão queria continuar a jogar, mas “com todas as garantias”. “E isso significava passar pelo bloco operatório. “Fazê-lo dessa forma era assegurar-me de que, se tudo corresse bem, sentir-me-ia futebolista de novo. O tratamento conservador [que consistia em fisioterapia a médio prazo] dava menos garantias”, conta Iniesta, que confessa: “Não gostaria de deixar o futebol por causa de uma lesão”.

Desde sempre, Andrés foi um homem de aspeto frágil, quase sempre de rosto triste. Em 2009, admitiu mais tarde, viveu uma depressão após a morte do amigo Dani Jarque, jogador do Espanyol, que não resistiu a um ataque cardíaco. Nos momentos difíceis, a tendência é para que isso se agrave. “Cada um vive a sua realidade, o seu momento. Se eu estiver a meio da recuperação de uma lesão, vivo-a assim. Para outra pessoa, essa situação pode não ser importante. (…) Desta forma pode ver-se que nós, futebolistas, ainda que afortunados, afinal somos pessoas”.

Aos jovens, sobre os quais se questiona se a cultura do esforço pode ser apreciada, Iniesta diz: “O mundo mudou a uma velocidade tremenda. Há 15 ou 20 anos, eu jogava em campos de terra. Mudou tudo para melhor, no entanto, isso dá mais importância à educação que podemos dar aos nossos filhos, dizer-lhes ‘tens o melhor, sim, mas valoriza-o, que as coisas não são fáceis’”.

No dia em que se lesionou, lembra “El Mundo”, Iniesta disse à mulher: “Não sei se tenho forças para enfrentar isto”. Todavia, quase dois anos depois, o jogador da Liga Japonesa reage com mais leveza: “Sim, pensei isso. (…) Mas voltei a mim mesmo, à paixão e à vontade de continuar a ser futebolista”. Por causa dessa “paixão”, o ex-Barcelona confessa: “O dia em que deixar o futebol será duríssimo. (…) Vou chorar muito”.

Enfrentado o futuro depois de pendurar as chuteiras, Iniesta admite que não sabe se quer ser treinador ou diretor desportivo. A dica está dada e será ouvida na Catalunha, certamente. Para já, Andrés olha para Luis Enrique à frente da seleção espanhola e considera que “a aposta está a correr muito bem”.

“Gosto da forma como transmite as ideias aos seus jogadores, acho que eles vão estar com ele a 200%”, diz com confiança.