O futebolista do Real Madrid, Toni Kroos, organizou um evento de angariação de fundos para a fundação que criou, colocando a si próprio um desafio: responder a 90 perguntas de 90 personalidades ligadas ao desporto. A prova foi superada e dizem que com distinção. Cada edição em papel da sessão de perguntas e respostas contribuirá com 90 cêntimos para a Fundação Toni Kroos.
Usain Bolt pode não ter surpreendido pela pergunta em si, mas não deixou de colocar uma questão pertinente: “Quais foram os teus rivais e companheiros com mais velocidade?”. Kroos nomeou Kylian Mbappé, na categoria de adversário, mas, no que toca a colegas de equipa, preferiu formar um trio: Bale, Varane e Vinícius.
Da recentemente retirada lenda do ténis, Roger Federer, veio uma pergunta sobre o médio que melhor ‘casou’ com Kroos. O alemão começou por ser politicamente correto, referindo a constelação que encontrou em Madrid. Depois, destacou os óbvios Casemiro e Luka Modric, como quem tudo ganhou no clube. “Sim, jogar com [eles] aproximar-se-ia bastante da perfeição”, disse.
O compatriota Jupp Heynckes, antigo treinador do Benfica, quis saber o segredo para vencer quatro edições da Liga dos Campeões com o Real Madrid. Kroos considera que existe uma “relação muito especial” entre o clube da capital espanhola e a mais importante competição europeia. “Se falarmos das três Champions que juntámos entre 2016 e 2018, tivemos a mistura imprescindível: individualidades que sobressaíam e autêntico espírito de equipa. (…) No final, trata-se de ter fé e trabalhar para criar aquela ação precisa que muda tudo”.
Em questões mais sérias, o diretor da “Kicker”, Jörg Jakob, pergunta a Kroos se a UEFA deve pedir desculpa aos adeptos pelos incidentes ocorridos na final da Liga dos Campeões da época passada, em Paris. O médio do Real não faz cerimónia: “Não sei se as investigações já encerraram, mas sim, penso que já vai sendo hora de pedirem desculpa”. Kroos conta inclusive que a mulher “esteve duas horas à porta do estádio com os miúdos”.
Robert Lewandowski, jogador do Barcelona, o eterno rival do Real Madrid, pede ao alemão que puxe pela memória e conte aquilo que o marcou no seu primeiro clássico. Como seria de esperar, Kroos atira de imediato: “Ganhei por 3-1. (…) Foi o meu primeiro grande dia em Madrid”.
Rafa Nadal, adepto confesso do Real, quis saber qual foi a decisão mais difícil que Toni teve de tomar na sua vida. O futebolista confessa que, em termos desportivos, nunca teve muitas dificuldades em optar: “Tive a sorte de as diversas opções serem sempre ótimas”. “A minha decisão mais difícil teve a ver com uma lesão. O ano passado tive uma pubalgia que me magoava muito. Tinha muitas dores, mas a cada semana ignorava-a por causa dos grandes objetivos (…). Passei quatro meses a penar, jogava com infiltrações. Foi muito duro (…) No entanto, quando tomei a decisão de seguir em frente [com a cirurgia], sabia que viriam tempos difíceis”, contou.
Com o pressuposto sentido de humor, a “Fums”, revista de teor satírico, perguntou ao jogador se terminaria a carreira na seleção alemã no Mundial de 2022, caso este fosse disputado num país democrático. “Sim, embora agora me possa vender melhor”, começou por dizer Kroos, acrescentando, sem papas na língua: “Estou totalmente contra o facto de o Mundial ser jogado no Catar. Designar esse país foi um erro das federações”. “Em 2018, já sabia que o Euro 2020 seria o meu último torneio [pela Alemanha]”, confessa Kroos.
Teresa Enke, a viúva do antigo guarda-redes do Benfica, Robert Enke, e presidente da fundação com o nome do falecido marido, que sofria de depressão e pôs termo à própria vida, perguntou a Toni Kroos: “Já tiveste que pedir ajuda psicológica alguma vez?”. “Até agora, não. Mas estou muito aberto a fazê-lo. (…) A mim parece-me que é um tema de que se podia falar mais abertamente. (…) Trabalhar as tuas debilidades fortalece-te. Mas há que atacar o problema de raiz, onde surge a pressão (…). Aí não vejo qualquer mudança e podemos melhorar muito”, respondeu o médio.
Toni Kroos disse ainda que, a nível de arbitragem, lhe parecem “mais eficazes as penalizações de tempo do que os cartões amarelos”. “Porque não expulsar por cinco minutos para que apenas se perca o tempo?”, deixou no ar o alemão, que não teve dúvidas quanto à frase que nunca o ouviremos dizer (pelo menos em público): “Esta equipa ganhou sem merecer”.
Segundo o jornal espanhol “As”, a ideia para a iniciativa surgiu de uma entrevista pós-jogo da Liga dos Campeões, dada ao jornalista da televisão alemã Nils Kaben. Depois de ouvir as questões, Kroos respondeu de forma surpreendente: “Tiveste 90 minutos para pensar em perguntas sensatas e agora chegas e fazes-me duas perguntas de merda?”. Kaben admite: “Foi a entrevista mais importante da minha carreira”.