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O mau momento de João Félix, por Simeone: “Não lhe dou o que ele precisa para dar tudo o que tem, se calhar a falha é do treinador”

O Atlético de Madrid defronta o Club Brugge esta quarta-feira, para a Liga dos Campeões, e João Félix não está no onze titular. Depois de um início de época prometedor, o português atravessa um mau momento no clube espanhol. Diego Simeone admite uma parte de culpa no processo

Rita Meireles

Quality Sport Images/Getty

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Numa altura em que os recém-contratados de todos os clubes tentam mostrar trabalho e confirmar que valem cada euro investido, há um jogador português que continua a espalhar pontos de interrogação entre os adeptos. E o investimento não foi pequeno. Em 2019, o Benfica vendeu João Félix ao Atlético de Madrid por 120 milhões de euros, depois de o jogador ter assinado uma temporada impressionante pelos encarnados. Apenas Neymar, Kylian Mbappé, Philippe Coutinho e Ousmane Dembélé foram vendidos por valores superiores.

Desde que chegou à capital espanhola, no entanto, o percurso de Félix deixou de ser representado por uma linha em sentido ascendente e passou a ser um conjunto de altos e baixos. E, até agora, a época 2022/23 é um bom exemplo disso.

O jogador de 22 anos mostrou sinais bastante positivos no início da época, ao fazer a assistência para os três golos na vitória do Atlético sobre o Getafe por 3-0, o jogo de estreia do clube na La Liga este ano. Nessa altura, o treinador Diego Simeone afirmou acreditar que o português estava a encontrar o seu lugar na equipa.

"João Félix está no melhor momento de todos os anos desde que estamos juntos, mais maduro, mais forte, mais seguro de si, envolvido no que a equipa precisa", afirmou então. "Ele tem todo o talento e capacidade, só tem de aproveitar".

Tudo isto foi, em parte, resultado do trabalho que fez ao longo do verão, sendo que além das competições por clubes, Félix tinha também em mente o Mundial deste ano. Nem em férias teve descanso, visto que, segundo o "El Mundo", levou consigo para Ibiza um preparador físico e treinou todos os dias ao início da manhã.

Mas quando as coisas pareciam prontas para correr bem ao jovem português, deixaram de correr.

A estreia a marcar esta época ainda está por acontecer e o número de assistências não aumentou desde a primeira jornada da La Liga. Félix também não tem sido escolha óbvia para Simeone, que o colocou em campo durante três minutos no jogo contra o Sevilla, 10 minutos contra o Club Brugge e 16 frente ao Girona. A imprensa espanhola adianta mesmo que algumas declarações do treinador podem ser direcionadas ao português, mesmo quando não fala diretamente sobre ele.

"O Ángel [Correa] deixa-nos contentes, porque ele é todo coração. Muitas vezes ele não começou no início, mas em todos estes anos que esteve no clube sempre jogou. Quando está zangado por fora, mostra-o por dentro e isso dá-lhe uma melhor oportunidade de jogar numa equipa que é só paixão e exigência", comentou o treinador depois de Félix ter mostrado o seu desânimo através de gestos.

Europa Press Sports

Ainda assim, antes do jogo com o Club Brugge, Simeone mostrou entender a frustração do jogador e reconheceu que talvez a culpa não seja dele, mas sim sua: "Ele é importante para o clube e para a equipa, mas, neste período, ainda não encontrou o mais importante para ele, que é o golo, o que lhe causa frustração. Está a trabalhar bem, treinou-se bem e, além disso, tudo o que possa fazer mal, eu faço pior. Significa que não lhe dou o que ele precisa para dar tudo o que tem, se calhar a falha é do treinador".

Esteja onde estiver a culpa, está clara a dificuldade de combinar o jogo de um com a forma como o outro desenha a partida. O resultado é um Atlético Madrid em quarto lugar na La Liga, empatado com os quinto e sexto lugares com 16 pontos. Álvaro Morata, Matheus Cunha, Ángel Correa ou Antoine Griezmann têm como opções primordiais para o ataque.

Se, no final de contas, João Félix continuar a ser o futebolista que foi eleito jogador do mês na liga espanhola em março deste ano, o que marcou na sua estreia como titular pelo Benfica, ou o que bisou na vitória do Atlético Madrid contra o Alavés (4-1), altura em que afirmou: “Nunca deixei de trabalhar, sempre fiz o meu trabalho, dei sempre o meu melhor e, quando assim é, a verdade começa a vir ao de cima”, então a verdade de Félix é esta. Resta saber quando e como poderá voltar a vir ao de cima.