Não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Esta poderia bem ser a frase na cabeça de Roberto De Zerbi quando pisou Anfield, na sua estreia como treinador do Brighton depois de substituir Graham Potter, que foi para o Chelsea.
Nas primeiras posses de bola contra o Liverpool, o Brighton mostrou ao que vinha. Saída por Robert Sánchez, o guardião, que jogava tranquilamente com Dunk, Veltman ou Webster. Daí, havia conexões com o forte Moisés Caiced e o preciso Mac Allister, que ligavam na frente, onde estavam o cirúrgico Gross, o elétrico Trossard e o renascido Welbeck.
O avançado inglês, de 31 anos, é uma das novidades da temporada. Longe do atacante rápido e pouco ordenado dos tempos do Manchester United, é pivô ofensivo sobre o qual gira o jogo, em apoios, deixando os companheiros de frente. Aos 4', a primeira boa impressão que De Zerbi deixou foi confirmada. Passe de calcanhar de Welbeck para Trossard e golo.
O Brighton já vinha de uma matriz de futebol apoiado e técnico com Potter, mas De Zerbi entrou na Premier League disposto a mostrar o padrão de ação que o fez destacar-se em Itália e no Shakhtar. As ondas de ataque dos visitantes iam de um lado a outro, viajando juntas com a equipa e aproximando-a da baliza rival. Perante a passividade do Liverpool, Alisson ia salvando a equipa de Klopp. Aos 10', o brasileiro travou um cabeceamento de Welbeck, e aos 14' evitou um tiro de Trossard.
LINDSEY PARNABY
O Liverpool encaixou oito golos nos últimos três jogos e, neste momento, ver a equipa de Klopp defender é assistir a um grupo de jogadores a olharem para os adversários, inertes, quais espetadores privilegiados. O ataque não pressiona como outrora, o meio-campo não suga a bola como nos melhores tempos, Arnold é superado por qualquer extremo que o encare. Até Van Dijk perdeu aquela compustura van dajkiana, aquele estar impassível no campo.
Aos 17', a sucessão de ataques com perigo do Brighton levou ao 2-0. Welbeck, feito avançado altruísta e excelente leitor das situações, assistiu para March. O inglês, lesto a interpretar a ação, deu de primeira para Trossard. Perante a descoordenação defensiva do Liverpool, o belga, espécie de Eden Hazard em ponto pequeno, assinou o 2-0.
Com Fábio Carvalho a titular, o Liverpool era um mar de dúvidas. A vitória do Arsenal e o empate dos reds deixa os homens de Klopp a 11 pontos do líder e esta desvantagem sente-se no ambiente em Anfield, onde se desconfia de quem há pouco se julgava ser um poço de garantias.
Com o passar dos minutos, o Brighton pareceu ir ficando com menos energia e fulgor. Perto do intervalo, Firmino fez o 2-1. Ao descanso, Luis Díaz substituiu Fábio Carvalho e, no começo do segundo tempo, chegaria a reviravolta da equipa da casa.
Firmino fez o 2-2 com classe aos 54' e, aos 63', uma má saída de Robert Sánchez deixou a bola solta, batendo em Webster para o 3-2. Mas havia qualquer coisa de estranho neste virar do marcador.
Anfield não rugiu enquanto a sua equipa dava a volta à circunstância. Os festejos do 3-2 carregavam dúvidas dentro, como se não houvesse convicção no que estava a ser feito. Afinal de contas, o Liverpool passara de estar a perder por dois golos para estar na frente contra uma das melhores equipas da Premier League. Mas o momento não é de cimentar confianças.
A instabilidade defensiva dos reds torna tudo permeável, inseguro, assente em bases pouco sólidas. O japonês Mitoma e Lallana entraram para reforçar a aposta técnica do Brighton. Welbeck roçou o 3-3, que chegaria mesmo aos 83'. Em nova situação em que um cruzamento saiu sem esboço de oposição, a bola chegou a Trossard, que completou o hat-trick pessoal.
De Zerbi entrou na Premier League com estilo, fiel às suas intenções atacantes e dando esperança em ser um digno sucessor do fantástico trabalho de Potter. Se do lado do Brighton há um novo começo auspicioso, no Liverpool o cansaço permanece numa equipa que anda triste, de mal com a vida. Caberá a Klopp, que para a semana cumprirá sete anos no banco de Anfield, dar a volta à situação.