Depois da meia maratona do Rio de Janeiro, Kaká vai correr este domingo a maratona de Berlim. Futebolista fino, fino que juntava uma potência impressionante, agora corre e quer fazer os 42 quilómetros abaixo das 3h40. “A motivação e a energia, quando estás na corrida, são maiores do que os treinos”, explicou em entrevista à “Marca”, escolhendo ainda, caso tivesse de escolher, Roberto Carlos para companheiro de estrada.
O brasileiro, campeão do mundo em 2002, pendurou as botas em 2017, depois de três temporadas em Orlando, nos Estados Unidos. Antes estivera no Real Madrid, onde nunca foi especialmente feliz. O jornalista da “Marca” pediu-lhe a melhor recordação daqueles tempos no Santiago Bernabéu e a resposta do atleta surpreendeu.
“Pode parecer estranho, mas fico-me com o dia em que se decidiu que eu ia embora, porque falei com Florentino [Pérez] e disse-me que me viam como um grandíssimo profissional que fez tudo o que era possível para conseguir grandes resultados no Madrid, mas as lesões e os poucos minutos que me deu o treinador não o permitiram”, explicou. O treinador foi, em três das quatro épocas, José Mourinho.

Kevork Djansezian
E acrescentou: “Isso foi uma grande satisfação porque senti que tinha as portas do clube abertas. Por isso nunca me vão ouvir a falar mal do Madrid ou de José Mourinho”.
Kaká, hoje com 40 anos, foi o último futebolista a vencer a Bola de Ouro antes do reinado de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Depois de voar em Milão, com Carlo Ancelotti (que muito elogiou e em quem mete os olhos para um dia que chegue aos bancos), fez 120 jogos, marcou 29 golos e conquistou apenas três troféus (Liga, Taça e Supertaça) na capital espanhola.
Questionado sobre se se revê em algum jogador hoje em dia, Kaká deixou uma reflexão interessante. “Sinceramente? Não. Sobretudo porque mudaram as posições. Joguei muitos anos no Milan a médio ofensivo, algo que mudou com o surgimento dos centrocampistas box to box”, refletiu. “Não sei em que posição jogaria neste futebol mais físico, se o faria um pouco mais aberto na esquerda ou como box to box.”
É assombroso que um dos melhores futebolistas da década de 2000 considere que não teria lugar nas ideias de hoje. Ou seja, o 10 está a desaparecer? Sim, ou melhor, “já se perdeu completamente”, garante Kaká. “Entre outras coisas, porque com as defesas tão adiantadas quase não há espaço no centro do campo. Assim é muito difícil encontrar espaços para fazeres o teu futebol. Por isso todas as equipas tentam abrir o campo e joga-se mais pelos corredores.”