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Amnistia Internacional critica David Beckham por protagonizar vídeo promocional do Catar: “Não é uma boa notícia para os direitos humanos”

O papel de embaixador do Catar de David Beckham já foi criticado no passado, mas desta vez as críticas intensificaram-se. O britânico surge num vídeo onde apela ao turismo no país, pintando a imagem mais positiva possível. Em resposta, a Amnistia Internacional criticou o jogador por ignorar o tema dos direitos humanos

Rita Meireles

David Ramos - FIFA

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O assunto não é novo, mas com o Campeonato do Mundo cada vez mais próximo, mais vozes se levantam em apelo para que o futebol não ignore a forma como o Catar, país anfitrião do torneio, nem sempre respeita os direitos humanos. Uma dessas vozes é a da Amnistia Internacional, que criticou David Beckham por "mais uma vez" não reconhecer os abusos, ao aparecer num vídeo a encorajar turistas a visitarem o país.

A ligação entre o ex-futebolista inglês e o país não é nova. No ano passado surgiu a notícia de que Beckham estaria a ganhar cerca de 15 milhões de libras por ano para trabalhar com a nação. Quando alguns trabalhadores começaram a descrever de uma forma bastante negativa as condições em que estavam a trabalhar nas infraestruturas para o Mundial, falou-se também do facto de Beckham ter sido incentivado pelo país a usar o seu "perfil mundial único" para mudar essa visão em relação às condições de trabalho no Catar.

Desta vez, num novo vídeo onde aparece a promover o lado mais turístico do Catar, Beckham diz às pessoas que mal pode esperar para levar os seus quatro filhos a visitar o local.

"O Catar é realmente um lugar incrível para passar alguns dias", diz durante o vídeo. "A fusão entre o moderno e tradicional cria algo realmente especial. É um dos melhores mercados de especiarias em que já estive. Esta será uma das minhas manhãs preferidas. Isto é a perfeição, mal posso esperar para trazer os meus filhos de volta".

A andar de barco, passear de moto ou a visitar um mercado de especiarias, foi assim que David Beckham apareceu no primeiro grande anúncio que protagonizou desde que assinou o acordo com o governo do Catar.

Após a publicação do vídeo, a Amnistia Internacional reagiu através de Felix Jakens, chefe das campanhas prioritárias da organização no Reino Unido.

"Este é apenas o mais recente vídeo positivo sobre o Catar a que David Beckham deu a cara, e mais uma vez não há qualquer menção ao terrível recorde de direitos humanos do país. A fama e o estatuto global de Beckham são ouro de relações-públicas para a imagem do Catar, mas ele deveria usar esse mesmo perfil único para apelar à FIFA e às autoridades do Catar para remediar devidamente os terríveis abusos que dezenas de milhares de trabalhadores migrantes enfrentaram na construção das infraestruturas para a realização do Campeonato do Mundo”, afirmou.

O representante da Amnistia lembrou ainda a mensagem que o ex-futebolista deixou no passado e a forma como as suas ações não combinam com as suas palavras: “Beckham disse que esperava que o futebol se revelasse uma força para o bem no Catar. Neste momento, parece que o seu envolvimento é uma boa notícia para a indústria turística do Catar, não para os direitos humanos".

Quando essa mensagem foi transmitida da parte do jogador, tratou-se de uma forma de explicar o seu papel de embaixador do Catar: “David tem visitado o Catar regularmente há mais de uma década e foi jogador do PSG, pelo que viu a paixão pelo futebol no país e o compromisso a longo prazo que foi assumido para acolher este Campeonato do Mundo e entregar um legado duradouro para a região. Ele sempre falou do poder do futebol como uma força para o bem", disse uma porta-voz do governo catari que, segundo o “The Telegraph”, recusou comentar os recentes comentários da Amnistia Internacional.