Gary Neville foi em tempos um defesa durinho, mago guardador das costas da afinação beckhamniana, nada do outro mundo tecnicamente, mas perfeitamente encaixado naquela lógica de Alex Ferguson, onde mentalidade e compromisso também ganhavam e viravam jogos. Depois disso, foi comentador, depois treinador – agora sabe gozar com ele próprio como ninguém por esses tempos no Valencia – e voltou a vestir a capa de comentador há alguns anos, tornando-se num dos mais populares pundits de Inglaterra.
É das vozes mais mordazes da televisão local, sobretudo quando toca comentar e criticar o que se vai passando no Manchester United, o único clube pelo qual jogou, entre 1992 e 2011, com três Campeonatos da Europa e dois Mundiais pelo meio. Há poucos dias, na Sky Sports, um despique com Jamie Redknapp aqueceu: Neville defendeu os futebolistas e exigiu que os donos do clube, os Glazer, voassem para Manchester no dia seguinte ao 0-4, contra o Brentford. Às vezes fala como quem está a ler, mordente e fluído, atacando também em temas políticos.
Se o United – na última posição da Premier League depois de duas derrotas em duas jornadas – está a viver um drama, um pesadelo e uma tragédia identitária que se alastra também ao nível de jogo no relvado, há ainda outro tema que assombra o dia a dia no clube: o futuro de Cristiano Ronaldo. O capitão da seleção portuguesa faltou a uma grande parte da pré-época e regressou pouco antes de esta começar oficialmente. Depois de ficar no banco com o Brighton, começou a titular contra o Brentford.

Jon Buckle - EMPICS
De acordo com vários jornais e televisões, Cristiano Ronaldo continua a querer sair de Old Trafford. Foram apontados muitíssimos clubes como destino, mas a situação não é desbloqueada por nada, semeando um ponto de interrogação enorme. Diz-se que quer atuar na Liga dos Campeões. Depois de tanto se escrever, numa algo insólita resposta a uma publicação no Instagram, o futebolista admitiu que está por semanas uma entrevista esclarecedora, na qual a máscara da imprensa cairá, por tantas mentiras contadas, avisou.
Gary Neville, ex-colega do número 7 do United, foi ao Twitter exigir uma antecipação dessas revelações. “Porque é que o maior jogador de todos os tempos (é a minha opinião) tem de esperar duas semanas para contar a verdade aos adeptos do Manchester United? Levanta-te e fala agora”, sugeriu.
Segue-se agora, debaixo e sob várias camadas de incerteza, o clássico dos clássicos em Inglaterra, um Manchester United-Liverpool, na próxima segunda-feira (20h, Eleven Sports1). É um jogo quase bizarro, pela situação em que se encontram, pois o United leva duas derrotas e o Liverpool soma apenas dois pontos, depois de empates com Fulham e Crystal Palace.
A janela de transferências continua aberta, por isso a novela à volta de Cristiano Ronaldo deverá manter-se quente. Neville quer respostas já. “O clube está em crise e necessita que os líderes liderem. Ele é o único que pode agarrar esta situação pelo pescoço.”