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João Félix. Uma ode ao otimismo e o “menino” que vê o que os outros não veem

Kiko, ex-avançado do Atlético de Madrid, convidou Álvaro Morata a viver num "modo otimista" constante sempre que João Félix tenha a bola, afinal "algo bom pode ocorrer". Diego Simeone está satisfeito: "Está a crescer, mostra maturidade, peso e vê mais do que os restantes"

Hugo Tavares da Silva

Angel Martinez

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O Atlético foi Atlético e quando marcou o primeiro golo da tarde, no campo do Getafe, recuou e esperou. O jogo tornou-se um pouco enfadonho, vulgar, embora competitivo. Valia pela curiosidade nas adaptações de Diego Simeone, que apostou, por exemplo, em Axel Witsel para o central do meio na defesa a três.

O tal golo surgiu logo aos 15’, por Álvaro Morata. João Félix parece ter tentado um drible à entrada da área e a bola, indiferente a destinos decretados ou intenções, sobrou para o avançado espanhol, que vai derretendo sempre que pode o tal mito de ser um patinho feio, e que bateu bem na baliza de David Soria.

O 2-0 foi outra loiça. A meia hora do fim, Félix recuperou a bola já bem dentro do meio-campo rival e lançou, com um passe que sacia os hedonistas, Morata, outra vez, que foi um clássico 9 a chutar com a canhota. “Com o pé fino de João Félix, o Atlético apresentou as suas credenciais em Getafe com um jogo redondo”, escreveria depois o cronista do “El País”, que lamentaria o tal recuo após o golo inaugural.

NurPhoto

O 3-0, finalmente, aos 75’, aconteceu depois de uma rotação de Félix, um dos melhores do planeta a virar-se de frente para o jogo, lançando depois Antoine Griezmann, que ainda assim teve de contornar um adversário e bater com a classe que se lhe reconhece. Apesar de tudo, os magos das estatísticas deram as três assistências a João Félix. Foi uma tarde importante para o internacional português, uma estreia promissora na nova edição da La Liga.

Diego Simeone esfregou as mãos. “Está cada vez mais maduro, mais forte. Demonstrou-o nas 14 finais da temporada passada até que teve de sair por lesão”, disse, após o jogo, o treinador argentino. “Está a crescer, mostra maturidade, peso e vê mais do que os restantes.”

Questionado se deverá ser o ano de Félix, Simeone preferiu cautela. “Não há que forçar nada. As coisas saem naturalmente e ele trabalhou para chegar a esta situação. Tem talento, vê mais do que os restantes, tem golo e oxalá possa manter no campo tudo o que se está a dizer aqui”, acrescentou.

Os sorrisos de Félix iam denunciando o bom momento. Era de quem sabe que é influente, importante e que move os ventos dos jogos. Esteve perto de fazer o golo quando tentou picar com o pé direito por cima de Soria.

Kiko, num Atlético-Ajax

Kiko, num Atlético-Ajax

Tony Marshall - EMPICS

Kiko Narváez, uma figura importante da história colchonera dos anos 90, está encantado. Aos 50 anos, está maravilhado com o “menino”, como escreveu na coluna no “As”.

Começou por elogiar o grupo e só depois a parceria que surgiu sobretudo num momento de particular “descontrolo” dos que jogam dentro de uma farda com as listas bêbadas. A Félix, chamou “génio”, depois exigiu a Morata "o modo otimista", durante a temporada, sempre que “o menino tenha a bola”. O menino é Félix.

Continua Kiko, o tal delantero que festejava quase como um deus grego, inspirando Fernando Torres, outro pibe do Vicente Calderón. “O português obriga-te, com a sua improvisação, a pensar que algo bom vai ocorrer, que, apesar de estar pressionado ou com a mirada perdida, te pode chegar um presente em forma de passe com vantagem”, refletiu, por escrito. E sentenciou: “Já sabem, rapazes, [cada] bola que tenha o menino, que haja otimismo”.

O Atlético de Madrid recebe, no próximo domingo (18h30, Eleven Sports 1), o Villarreal. A poucos meses do Campeonato do Mundo, talvez o acelerador de partículas da influência e genialidade tenha atraído o jovem português, de apenas 22 anos. Seja como for, venha o que vier, Kiko vai pregando o “otimismo”.