Ainda que não pareça, visto já estamos em agosto e os campeonatos estarem a começar um pouco por toda a Europa, o Mundial ainda vai ser jogado este ano. A edição do torneio, no Catar, está marcada para os meses de inverno devido ao calor extremo que se faz sentir no país durante o verão. O primeiro jogo, entre Senegal e Países Baixos, será a 21 de novembro.
Este Campeonato do Mundo será, no mínimo, diferente. Envolvido em diversos temas polémicos desde o dia em que o país anfitrião foi anunciado, o torneio foi sempre sobre algo muito maior que o futebol: é sobre os direitos humanos, ou falta deles. O mesmo tema que levou Philipp Lahm, a antiga estrela do Bayern de Munique e diretor do Euro 2024, que se disputará na Alemanha, a garantir que não vai marcar presença na competição, mesmo tratando-se de um antigo campeão mundial, com a Alemanha, em 2014.
"Não faço parte da delegação e não estou interessado em ir para lá como adepto. Prefiro acompanhar o torneio a partir de casa. Se eu tivesse um trabalho ou uma agenda no Catar, na minha qualidade de diretor do Euro, naturalmente que seria diferente", disse à revista “Kicker”.
Migrantes a trabalhar em más condições ou sob ameaças, proibição da homossexualidade ou desigualdade entre géneros são alguns dos temas que marcam esta conversa. Os mesmos que Lahm tem criticado publicamente. "Os direitos humanos devem desempenhar o maior papel na adjudicação de um torneio. Se a um país for adjudicado o contrato e tenha um dos piores desempenhos neste respeito, começa-se a pensar nos critérios utilizados para tomar a decisão. Isso não deverá voltar a acontecer no futuro. Direitos humanos, sustentabilidade, a dimensão do país, nada disso parece ter desempenhado um papel", continuou.
Uma vez que já não há nada a fazer em relação a esta decisão, a esperança passa agora por ter os jogadores que vão marcar presença no torneio a falar sobre estes assuntos. Algo que Lahm tem como certo no que diz respeito à seleção alemã.
"Como jogador, já não se pode contornar isto", afirmou. "Falámos muito sobre valores. A sua incorporação também faz parte da presença. Quando olho para os dois últimos torneios, a aparição dentro e fora do campo não foi assim. Que todos se pudessem identificar com ela. Mas isso seria importante e é isso que eu desejo. E, em termos de competição, estamos sempre entre os favoritos. Portanto, desejo que a Alemanha esteja lá até ao fim".
Philipp Lahm não é o primeiro a defender que os jogadores não desviem o olhar a assuntos tão importantes. Magda Eriksson, jogadora do Chelsea e da seleção sueca, garantiu ao jornal britânico ‘i’ que “em última análise, há dois caminhos a seguir: ou se boicota [a competição] completamente ou vão lá sem fazer segredo daquilo que defendem”.
“No caso do Catar, talvez a coisa mais importante que nós futebolistas podemos fazer é falar sobre a situação lá, para bem dos trabalhadores que não têm tido voz”, afirmou a jogadora, apelando a seleções como Inglaterra e Suécia para que falem, pois assim “dessa forma pelo menos algo de bom poderia sair disto”.