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“Talvez consiga sacar todo o meu potencial em 10 anos”: Haaland e Shearer estiveram à conversa

O maior goleador da história da Premier League entrevistou, para o "The Athletic", um dos maiores fenómenos de finalização do futebol atual. Em cima da mesa, dor e a sua utilidade, o significado do golo e o que vem aí na próxima década

Hugo Tavares da Silva

Harriet Lander/Copa

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As palavras começaram a faltar a Erling Haaland quando Alan Shearer lhe pediu para descrever o que sente quando marca um golo. E o noruguês recomeçava e parava. Até que simplificou tudo: “Tu sabes do que falo, mas muita gente não sabe”.

E Shearer, que ainda é o máximo goleador da Premier League (260) e que agora vai vestindo a capa de jornalista no “The Athletic”, lá escreveu no texto em que bateu bolas com o novo 9 do Manchester City: “E eu sei. É a maior adrenalina de sempre, alguns segundos de uma vertigem em que te perdes, uma droga mágica que se apodera de ti”. Que descrição, não admira porque salivam por mais. Mas a lenda do futebol inglês admite que também há o outro lado quando se falha um golo. A angústia e as noites sem dormir.

Shearer, impressionado com o tamanho do futebolista nórdico, trocou com o entrevistado alguns cromos de pré-época, ou seja, desabafos de puro desamor contra esse período que marca o arranque de cada temporada. “Não vos posso dizer o suficiente o quanto eu odiava aquela correria toda”, admite o ex-futebolista do Newcastle, que augura muitos duelos ganhos para a nova estrela da Premier League.

Alan Shearer num duelo com Alf Inge Haaland, o pai de Erling, num City-Newcastle nos anos 90

Alan Shearer num duelo com Alf Inge Haaland, o pai de Erling, num City-Newcastle nos anos 90

Steve Morton - EMPICS

Haaland diz que está pronto. “Eu acho que posso melhorar em tudo, sabes. Eu falho oportunidades com o meu pé esquerdo a toda a hora, acabei de o fazer no último fim de semana”, relembrou. Na Supertaça contra o Liverpool, com os rapazes de Jürgen Klopp já em vantagem, Haaland falhou uma recarga com a baliza deserta, atirando a bola à barra. Depois, sorriu como se não se reconhecesse. Mas o foco está aparentemente em ser melhor do que no dia anterior.

“Se estamos a falar sobre finalização, tenho de melhorar pé esquerdo, pé direito e cabeceamentos. Há tantas coisas”, reflete. “É isso que é tão bom no futebol, podes sempre melhorar independentemente do quão velho és, podes sacar o teu potencial todo. Talvez consiga sacar todo o meu potencial em 10 anos. Ainda sou jovem, ainda vou desenvolver-me e tenho de me desenvolver da maneira certa.”. O avançado diz que será um equilíbrio entre evolução e rendimento.

A dor “é boa” aqui e ali, diz. Por isso, mais uma vez para dar palavras mais sábias e explicar o tal fenómeno que por vezes os futebolistas mencionam, Alan Shearer escreve: “É o reconhecimento de algo. Às vezes, para seres bem-sucedido, tens de sofrer, dar tudo de ti. É também um lembrete de que estás vivo, não és um robô ou uma máquina. És um competidor, engolido por emoção, energizado pela confrontação”. Terá Alan nascido para traduzir o que os jogadores sentem?

O Manchester City, campeão nacional e que já perdeu a Supertaça (1-3 vs. Liverpool), estreia-se na Premier League no domingo, em Londres, contra o West Ham (16h30, Eleven Sports1). Na frente, submisso ao feroz apetite pelo golo estará Haaland, que representa o regresso de um 9 tradicional à ideia de Pep Guardiola, algo que, aliado à chegada de Robert Lewandowski ao Barcelona, é uma boa notícia para Alan Shearer.