A internacional portuguesa foi confirmada, esta quinta-feira, pelo clube que venceu as duas últimas Ligas dos Campeões femininas. Francisca Nazareth chegou lá como é: bem-disposta, a sorrir e até a cantar o hino do Barça em catalão
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Era, no fundo, uma questão de tempo, sê-lo-ia sempre face ao que estava diante da vista desarmada de toda a gente, até das mais incautas pessoas quanto a futebol: Francisca Nazareth, ‘Kika’ para família, amigos e eventualmente toda a gente, não ficaria durante muito tempo em Portugal, país louco por paixão pelos pontapés que se dão na bola mas ainda humilde na atenção que se dá aos jogos quando são mulheres em campo.
Há uns anos que o interesse e os olhos deitados ao futebol feminino têm crescido no país, as razões são várias, uma delas é Kika, que com o seu jeito inato saltou dos Torpedos, clube de bairro onde jogava futsal, para o Benfica, onde chegou aos 16 anos e logo se estreou na equipa principal. Uma benfiquista de berço assumiu-se, aos poucos, como o farol de talento do clube, marcando 82 golos e dando 32 assistências em 128 jogos espalhados por seis épocas.
Eleita melhor jogadora do campeonato nacional onde cedo, deveras cedo, pintalgou os relvados naturais e artificiais com rasgos do seu talento, Kika Nazareth ia contagiando quem a via, também, fora de campo. Extrovertida no feitio, carismática quando toma a palavra, a futebolista habituou as pessoas a esperarem uma boa-disposição articulada nas suas intervenções, falando bem para lá da idade que tem, fosse durante as peripécias com o Benfica ou nas intervenções ponderadas com a seleção nacional - com Portugal jogou um Europeu e um Mundial.
Esses traços de personalidade que cativam denotaram-se, mais uma vez e certamente não a última, ao trocar Lisboa por Barcelona.
Num dos vídeos divulgados, esta quinta-feira, pelo clube catalão, a portuguesa surge a cantar o hino do Barça, em catalão, sem aparentes vergonhas ao cantarolar assim uma novidade - aos 21 anos, é a nova jogador do atual detentor da Liga dos Campeões feminina.
Aliás, das últimas duas edições da maior competição de clubes.
Kika Nazareth disse que era uma “proposta irrecusável” que se aliou ao seu desejo de “abraçar novos desafios”. Sem valores confirmados, vários jornais portugueses avançaram que o Barcelona terá pagado à volta de 500 mil euros pela internacional portuguesa, uma senhora quantia para o futebol jogado por mulheres - o recorde de transferências está nos 795 mil euros que o Bay FC, dos EUA, pagou ao Real Madrid por Racheal Kundananji, avançada da Zâmbia.
A portuguesa chega a um palco que muita gente lhe augurava, porventura tenha alcançado até o mais alto e tão cedo na carreira. O Barça é a melhor equipa da Europa, tem a melhor jogadora do mundo e Kika até tinha no roupeiro algo que já lhe pertenceu: num jogo recente entre o Benfica e as catalãs, trocara de camisola com Aitana Bonmatí, craque que já confessou admirar.
“Sobretudo depois do ano que tivemos, que tive, o facto de ter ganhado todas as taças que havia para conquistar em Portugal, acho que é sair da melhor forma possível. Abraçar um novo projeto que me proporcionará novos desafios e novas experiências. É um sentimento agridoce, obviamente. Acaba por ser um bocadinho... o mais feliz e o menos feliz desta minha curta carreira, que será longa”, assumiu.
Em declarações à BTV, a jovem avançada, de 21 anos, valorizou a “grande diferença entre Espanha e Portugal” no que toca ao futebol feminino, a seleção espanhola é campeã do mundo e o conjunto catalão bicampeão continental.
“É seguramente um 'até já' e não um 'adeus'. Cresci nesta casa, cresci com esta casa. Antes de nascer, já era e fazia parte desta casa, portanto, o Benfica faz parte um bocadinho da minha vida. Sou benfiquista, serei sempre benfiquista. Há coisas que não mudam, e isto certamente que não mudará”, vincou.
Mencionou o esforço que o presidente Rui Costa fez na tentativa de a demover da transferência, contudo recordou a “diferença grande” na realidade futebolista entre os dois países para quer continuar a evoluir.
“Ainda é grande a diferença entre Espanha e Portugal e acho que são estas coisas que nos fazem dar o passo. Novas ambições, novos desafios, o querer ir mais além. Não é que o Benfica não me proporcione esse tipo de condições, mas a verdade é que o futebol português e o futebol feminino em Portugal ainda têm um caminho longo pela frente, que está a ser feito, a ser bem feito”, acrescentou.
Já o Benfica destacou o percurso da criativa que se estreou na equipa principal com apenas 16 anos, sendo que em seis temporadas realizou 128 jogos oficiais e marcou 82 golos.
Pelos ‘encarnados’ foi campeã quatro vezes, tantas como as Taças da Liga conquistadas, além de duas Supertaças, uma Taça de Portugal e um campeonato da segunda divisão.
“Kika permanecerá como uma das imagens mais fortes e acarinhadas para os adeptos, pela proximidade que sempre fez questão de praticar”, escreveu o Benfica.
Os lisboetas asseguram que a agora ex-atleta será “sempre” alguém da casa, já que será inabalável a “ligação umbilical” que liga as partes.
Kika Nazareth, que conta oito golos nas 39 internacionalizações pela equipa das ‘quinas’, integrou seleções participantes no Campeonato da Europa de 2022 e no Mundial de 2023.
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