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Futebol feminino

FIFA ameaça não transmitir jogos do Mundial feminino em países ‘big five’ por as verbas oferecidas serem “um estalo na cara das mulheres”

Gianni Infantino já dissera que os valores oferecidos por operadores televisivos interessados em transmitir os jogos do próximo Campeonato do Mundo eram inferiores ao esperado, mas, agora, o presidente da entidade revelou que os interessados do Reino Unido, Espanha, França, Alemanha e Itália ofereceram “apenas” €1,1 milhões e €11,3 milhões pelas partidas. E a FIFA “tem o dever e obrigação morais de não desvalorizar o Mundial”

Diogo Pombo

Matt Roberts - FIFA

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Colocar a Austrália e a Nova Zelândia como anfitriãs de um Mundial de futebol é, à partida, uma dança ao pé-coxinho que seria sempre exigente de força de vontade redobrada para quem está na Europa e pretende ver jogos: a diferença horária. Em relação a Portugal, o mínimo que o tempo pula para a frente comparando com a Oceânia serão sete horas se a referência for Perth, no oeste australiano, mas pode ser de 11 horas caso a comparação for com Dunedin ou Hamilton, na Nova Zelândia.

Para os portugueses, a quantidade de fusos horários que cabem entre o país e as cidades onde a seleção nacional terá os seus encontros da fase de grupos do Campeonato do Mundo, além da hora de arranque dos três jogos, não será das piores - contra os Países Baixos (23 de julho) e o Vietname (27 de julho), o início está marcado para as 8h30 de Portugal Continental e, frente aos EUA (1 de agosto), ficou para as 8h. Quem desejar assistir às partidas terá de despertar cedo, a horas que, vistas com óculos televisivos, não são as mais convidativas a audiências.

Esse será um dos motivos a condicionar o que motivou um lamento público, esta quarta-feira, vindo de Gianni Infantino, o presidente da entidade que organiza e detém os direitos televisivos do Mundial de futebol jogado por mulheres. Porque a FIFA não está contente com os valores que lhe foram apresentados até agora por canais de televisão interessados em transmitir os jogos nos respetivos países e não aceitará propostas que considere inferiores à avaliação que faz deles.

O líder da FIFA especificou o seu desapontamento, apontando a crítica às nações da Europa onde o futebol feminino e masculino movimenta mais dinheiro. “Se as ofertas continuarem a não ser justas, seremos forçados a não transmitir o Mundial nos países europeus que fazem parte do ‘big five’”, garantiu Infantino, explicando que a “obrigação legal e moral” da entidade é “não desvalorizar” a competição. Falando, em Genebra, na Organização Mundial de Comércio, o presidente argumentou que “os operadores públicos de televisão têm o dever de promover e investir no desporto feminino” porque “as mulheres merecem-no”.

Juntando no mesmo saco Reino Unido, Alemanha, França, Espanha e Itália, Infantino revelou que a FIFA recebeu, até ao momento, um proposta geral entre os €1,1 milhões e €11,3 milhões dos ‘big five’. Contrapondo com o último Mundial masculino, a diferença é abissal: a entidade recebeu entre €81 milhões e €182 milhões pelos direitos televisivos vindos desse quinteto de países. Tamanha diferença, classificou o suíço que lidera a FIFA, é “um estalo na cara” das jogadoras e das “mulheres em todo o mundo”.

No anterior Campeonato do Mundo feminino, organizado pela França em 2019, a FIFA indicou que a audiência total do torneio rondou os 1,1 mil milhões de telespetadores. Estando os anfitriões do próximo torneio, cujo arranque será a 20 de julho, na Oceânia, Gianni Infantino reconheceu que os jogos não serão realizados “em horário prime-time na Europa”, mas considerou “um horário razoável” o facto de a maioria calhar com “as 9h ou as 10h da manhã”.