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Futebol feminino

Um recorde engordou, e muito, no primeiro dérbi pós-qualificação para o Mundial: Sporting venceu Benfica na Luz perante 27.221 pessoas

Outra vez no Estádio da Luz e de novo em dérbi de Lisboa, o Sporting de Mariana Cabral venceu, por 0-1, o Benfica de Filipa Patão. O jogo fixou novo recorde de assistência no futebol feminino em Portugal, superando a marca anterior em mais de 12 mil espetadores

Diogo Pombo

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

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Ainda a manhã palmilhava o novo horário de verão e a comunicação do Benfica dava conta que havia bilhetes do terceiro anel do Estádio da Luz a serem vendidos para mais logo. A pista não era envergonhada: estando o clube a abrir mais assentos no seu recinto, antevia-se outro recorde, mais um número a estilhaçar o teto no futebol jogado por mulheres. A ocasião e o contexto, como tudo, ajudavam a que assim fosse.

Além de em campo se encontrarem, mais uma vez, as equipas femininas de dois ditos grandes do futebol português, este dérbi de Lisboa era o primeiro jogado desde a histórica qualificação da seleção nacional para o Mundial, o primeiro que as portuguesas vão jogar. Essa vitória, a 22 de fevereiro, terá contribuído para aguçar o interessa do Benfica-Sporting que entrou Luz dentro este domingo, com um clássico da Liga BPI que juntou várias das internacionais que galgaram fusos horários até à Nova Zelândia onde Portugal venceu o tal play-off de apuramento.

Já na segunda parte, quando o Sporting de Mariana Cabral ganhava por 0-1 e fazia por suster os ataques, remates e tentativas da reação do Benfica, viu-se nos ecrãs gigantes do estádio a confirmação de mais uma pincelada de história. Estavam 27.221 pessoas a presenciarem mais um pulo dado na bola chutada por mulheres em Portugal, o maior alguma vez dado em escala do número de adeptos - em janeiro, noutro dérbi lisboeta e no mesmo lugar, tinha sido 15.032 espetadores. O anterior recorde, em maio do ano passado e com o mesmo cenário, fixara-se nas 14.221 pessoas.

Quanto ao que tanta gente viu no relvado, o único golo veio de Maiara Neihues, brasileira que se estreou a marcar pelo Sporting, aos 63’. O golo abriu as comportas de uma acentuada reação do Benfica, que massacrou a área contrária e muito rematou à baliza da guarda-redes Hannah Seabert, eleita a melhor em campo. Foi a primeira derrota das campeãs nacionais em provas internas, esta época, sem alterar o que seja na classificação: as encarnadas lideram o campeonato, com 48 pontos, mais nove do que SC Braga as leões, empatadas no segunda lugar.

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    Sílvia Rebelo tem 33 anos, é capitã da equipa feminina do Benfica e joga a central, mas iniciou a sua aventura no futebol como avançada, na Fundação Laura Santos, aos 12 anos. Conhece bem as dificuldades do futebol amador, treinou em pelados, levantou-se às cinco da manhã para jogar no mesmo dia às três da tarde e só conseguiu tornar-se profissional há meia dúzia de anos. Natural de Gouveia, foi chamada para representar Portugal pela primeira vez com 16 anos e conta nesta primeira parte do Casa às Costas, como tudo começou e o que teve de fazer para garantir presença nas convocatórias da seleção

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    Com ironia na distância, a seleção nacional teve de ir aos longínquos antípodas da Nova Zelândia para garantir a presença no primeiro Mundial feminino da sua história. Com dois golos de defesas centrais, o último de penálti e já nos descontos, Portugal ganhou (2-1) aos Camarões com o tão português fado do sofrimento pelo meio, conseguindo a inédita qualificação. Um feito que é o culminar de sacrifícios feitos por várias gerações e uma pegada deixada para as que vierem a seguir. Este verão, as portuguesas vão jogar no Campeonato do Mundo