Perfil

Futebol feminino

Francisco é o novo diretor do futebol feminino do Bayern e gostava que “os grandes clubes” fossem “as locomotivas da profissionalização”

Tem 36 anos, estudou Jornalismo antes de se mudar para o Treino Desportivo e começou no futebol profissional no Lille graças a um convite de Luís Campos, um encontro semeado por um estudo para o doutoramento que tinha Bernardo Silva como objeto. Em conversa com a Tribuna Expresso, o novo diretor técnico do futebol feminino do Bayern Munique fala sobre a sua “obsessão positiva” pelo futebol jogado por mulheres e deixa algumas pistas para o futuro

Hugo Tavares da Silva

Bayern Munique

Partilhar

A mente de Bernardo Silva provocou o encontro de Francisco Fardilha com Luís Campos. O novo diretor técnico do futebol feminino do Bayern Munique sentou-se com o então homem forte do Lille para debater a criatividade nas academias de futebol profissional, o tema do doutoramento do académico. Luís Campos acabou por levá-lo para França.

“Um dos estudos do doutoramento foi sobre a vida do Bernardo Silva, para mim um dos grandes exemplos da criatividade no futebol a nível mundial”, conta à Tribuna Expresso o novo dirigente do colosso germânico, convidado pela diretora-desportiva e vice-presidente da Associação Europeia de Clubes, Bianca Rech. “Entrevistei o Bernardo Silva, a mãe do Bernardo, os professores da escola, treinadores do Benfica, como Helena Costa, e também alguém do percurso profissional. E tive a felicidade de poder falar com o Luís Campos, acabámos por criar boa relação. É alguém por quem tenho não só admiração, como gratidão. Também é graças a ele, por me ter aberto as portas do futebol profissional, que tenho a oportunidade de estar no Bayern Munique.”

Francisco Fardilha, formado inicialmente em Jornalismo, tem 36 anos, deu aulas na universidade e conta com passagens no futebol profissional pelo Lille, onde Luís Campos queria aperfeiçoar a academia do clube e fomentar a chegada de jovens à equipa principal. E ainda pelo futebol feminino do Bordéus, um emblema que abandonou depois de a equipa masculina ter descido de divisão e os pressupostos do projeto terem mudado. Antes entregara-se ao futsal, mais exatamente à ARDACM, um clube da Maia. Foram talvez 17 ou 18 anos. Foi ali que um treinador, André Maia, lhe beliscou o gosto pelo treino. Foi treinador durante 13 anos, até enquanto estava a realizar o Erasmus, em Roma, quando se juntou a uma equipa. Mais tarde, durante o mestrado de Treino Desportivo em Stirling, na Escócia, obteve uma bolsa que previa treinar as equipas de futsal da universidade.

Artigo Exclusivo para assinantes

No Expresso valorizamos o jornalismo livre e independente

Já é assinante?
Comprou o Expresso? Insira o código presente na Revista E para continuar a ler
  • Não queríamos interromper a festa ao som das Doce, mas o selecionador atendeu: “Só não tem orgulho nesta equipa quem nunca a viu jogar”
    Futebol feminino

    Francisco Neto teve de procurar um abrigo do ruído da festa que decorria no balneário da seleção nacional em Hamilton, na Nova Zelândia, ao atender a chamada da Tribuna Expresso. Após a inédita qualificação para o Mundial feminino, o selecionador nacional explicou como “é maravilhoso” conseguirem criar “referências” para “as meninas que começam a olhar para as seniores” e que, com mais um feito história, o objetivo da equipa mantém-se: “Queremos é que as pessoas se identifiquem connosco”

  • O futebol é delas, para sempre. E elas estão no Mundial, pela primeira vez
    Crónica de Jogo

    Com ironia na distância, a seleção nacional teve de ir aos longínquos antípodas da Nova Zelândia para garantir a presença no primeiro Mundial feminino da sua história. Com dois golos de defesas centrais, o último de penálti e já nos descontos, Portugal ganhou (2-1) aos Camarões com o tão português fado do sofrimento pelo meio, conseguindo a inédita qualificação. Um feito que é o culminar de sacrifícios feitos por várias gerações e uma pegada deixada para as que vierem a seguir. Este verão, as portuguesas vão jogar no Campeonato do Mundo

  • “Era o sonho de muitas meninas e de muitas mulheres”: entrevista a Alfredina, uma das pioneiras da seleção feminina em 1981
    Futebol feminino

    Os rumores deram lugar a uma carta com a convocatória para a viagem a Le Mans, em outubro de 1981, para participar na estreia da seleção portuguesa de futebol feminino. Alfredina Silva, canhota e jogadora de linha, tinha 17 anos e agora, mais de quatro décadas depois, celebra o feito do grupo que se qualificou para o Campeonato do Mundo, lembrando as companheiras que já não estão e homenageando, entre outras, a capitã daquela altura, Fátima Azevedo. “Foi uma pessoa que lutou muito pelo futebol feminino”, recorda a coordenadora de futebol feminino e treinadora das sub-13 do Boavista. Na ressaca da felicidade, a ex-jogadora, de 59 anos, deixa um aviso: “Precisamos de não recuar e de não ficar deslumbrados com este resultado, que vai motivar mais meninas a virem para o futebol"

  • “Treinávamos e jogávamos em pelado. Era muito amor ao futebol”: uma viagem até ao apuramento para o Mundial feminino de 1999
    Futebol feminino

    Extinta entre 1983 e 1993, a seleção portuguesa disputou a qualificação para o Campeonato do Mundo de 1999 contra Dinamarca, Rússia e Bélgica. Carla Couto, Edite Fernandes, Paula Cristina e Anabela Silva recordam à Tribuna Expresso aquela caminhada com tiros de metralhadora e gatos que desapareciam ao barulho, e confessam também as agruras e as esperanças de uma geração que teve de “partir pedra". Na véspera do Portugal-Camarões, que poderá colocar as portuguesas num Mundial pela primeira vez, estas ex-futebolistas explicam como era o futebol feminino no fim do século XX