Futebol feminino

Caso de coação sexual abala liga de futebol feminino dos Estados Unidos. Jogos estão suspensos e comissária Lisa Baird foi forçada a sair

Caso de coação sexual abala liga de futebol feminino dos Estados Unidos. Jogos estão suspensos e comissária Lisa Baird foi forçada a sair
Lewis Gettier/ISI Photos

Duas antigas jogadoras de Paul Riley, treinador campeão da NWSL em 2018 e 2019, deram a cara para revelar os abusos sexuais e emocionais que sofreram às mãos do técnico britânico. No início deste ano, os responsáveis da liga não encontraram motivos para investigar Riley

Tribuna Expresso

Campeão da National Women’s Soccer League (NWSL) com as North Carolina Courage em 2018 e 2019, o britânico Paul Riley tornou-se num dos treinadores de maior currículo e experiência no futebol feminino norte-americano.

Mas esta semana, duas antigas jogadoras de Riley deram a cara para revelar que por trás do sucesso desportivo do treinador está uma cultura tóxica de controlo e coação sexual. Numa reportagem do “The Athletic”, Sinead Farrelly e Mana Shim alegam que o técnico, hoje com 58 anos, coagia jogadoras para encontros sexuais, normalmente precedidos de longas noites de consumo de álcool, que o próprio Riley pagava, um padrão ao longo da sua carreira.

Se no caso de Shim os alegados abusos aconteceram durante a sua passagem pelas Portland Thorns, Farrelly diz ter sido alvo de Riley durante boa parte da carreira, em equipas como as Philadelphia Independence, as New York Fury e as Thorns. Além de dizer ter sido coagida a ter relações sexuais com o treinador, Farrelly terá mesmo recusado chamadas a campos de treino da seleção norte-americana por pressão de Riley, numa relação que diz ser de total controlo emocional.

Os factos alegados pelas duas jogadoras foram corroborados por várias outras jogadoras e por fontes dentro das equipas treinadas por Riley. E a inação da cúpula da NWSL já fez rolar a cabeça de Lisa Baird, a comissária da liga, no cargo desde fevereiro de 2020. Este fim de semana não haverá jogos no principal campeonato norte-americano de futebol feminino, um pedido do sindicato das jogadoras, depois de dias "dolorosos" para as vítimas.

Liga cruzou os braços

Além dos avanços de cariz sexual, Paul Riley também é acusado de frequentemente lançar comentários abusivos às suas jogadoras, nomeadamente sobre o peso e orientação sexual das mesmas. Todas as alegações foram negadas pelo treinador em resposta ao “The Athletic”. O certo é que em 2015, Mana Shim apresentou queixa da conduta do treinador aos responsáveis das Portland Thorns, que não renovaram o contrato ao treinador. Merritt Paulson, proprietário da equipa, confirmou que na altura se provou terem existido violações aos códigos da formação e que “tudo foi partilhado com a liga”.

Lisa Baird, comissária da liga, apresentou demissão
Bryan Byerly/ISI Photos

Contudo, não houve consequências, já que meses depois Paul Riley foi contratado para as WNY Flash, que viriam mais tarde a tornarem-se nas North Carolina Courage, onde foi campeão em anos consecutivos. A equipa despediu o treinador na quinta-feira, dia em que o caso se tornou público.

No início deste ano, aproveitando a aprovação de um novo conjunto de regras anti-assédio por parte da NWSL, Farrelly e Shim contactaram a liga, pedindo que Riley fosse novamente investigado. O pedido foi negado diretamente por Lisa Baird, que informou as duas antigas atletas que as suas queixas de 2015 haviam já sido investigadas e que essa investigação “estava concluída”, sem apresentar mais detalhes.

Ao “The Athletic”, a NWSL confirmou que foi contactada no início do ano, mas que por falta “de novas informações, o assunto foi encerrado”. A falta de ação da liga levou nomes de peso do futebol feminino norte-americano como Megan Rapinoe ou Alex Morgan (que foi inclusivamente colega de equipa de Farrelly e Shim nas Thorns) a criticarem duramente a postura de Lisa Baird. Morgan partilhou mesmo no Twitter o e-mail em que a responsável máxima da NWSL diz a Sinead Farrelly que a liga não iria investigar mais o caso.

As críticas levaram Lisa Baird a deixar o cargo nas últimas horas. A FIFA e a federação norte-americana estão também já a investigar Paul Riley, a quem foi retirada a licença de treinador, também suspenso pela SafeSports, organismo que investiga casos de abuso sexual no desporto norte-americano.

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