A Fórmula 1 está de férias, mas há um braço de ferro entre a Federação Internacional do Automóvel (FIA) e alguns pilotos que não tira um dia de descanso que seja desde 2020. E desta vez a jogada foi da parte da associação presidida por Mohammed Ben Sulayem.
Numa atualização recente ao Código Desportivo Internacional, a FIA apresentou uma nova regra. Um novo artigo dita que se irá considerar uma infração sempre que os pilotos demonstrem “a elaboração e exibição geral de declarações ou comentários políticos, religiosos e pessoais, nomeadamente em violação do princípio geral de neutralidade promovido pela FIA ao abrigo dos seus Estatutos, a menos que previamente aprovado por escrito pela FIA para as competições internacionais, ou pelo ASN relevante para as competições nacionais dentro da sua jurisdição".
Ou seja, a partir do primeiro dia da temporada de 2023, os pilotos terão que pedir autorização à federação para fazer qualquer comentário sobre temas como política, religião ou declarações do foro pessoal.
A decisão chega dois anos após o início do que, aparentemente, tem sido um problema para a própria FIA. Foi durante um fim de semana de corrida em Itália que Lewis Hamilton decidiu subir ao pódio com uma t-shirt vestida onde se podia ler “prendam os policias que mataram Breonna Taylor” na frente e “digam o nome dela” na parte de trás. Taylor foi baleada pela polícia na sua própria casa.
Este gesto do sete vezes campeão do mundo levou a FIA a fazer alterações nas regras para que os pilotos fossem obrigados a vestir apenas o fato de corrida nos pódios. Mas Hamilton não perdeu a voz e a ele juntou-se Sebastian Vettel.
Os dois pilotos têm falado por aqueles que nem sempre conseguem ser ouvidos através de uma modalidade que todos os anos dá a volta ao mundo, inclusivamente a sítios onde os direitos humanos não são respeitados. Enquanto a FIA leva aos adeptos as corridas e a neutralidade que tanto defendem, os dois pilotos levam temas como a igualdade, diversidade, sustentabilidade e inclusão, ao mesmo tempo que fazem o seu trabalho em pista.
Vettel, que é agora um piloto reformado e não estará no paddock no próximo ano, tem feito questão de dar destaque aos diversos problemas ambientais e políticos que o mundo enfrenta. Já usou uma camisola em defesa dos homossexuais durante o hino no Grande Prémio da Hungria, organizou uma corrida de karting com mulheres da Arábia Saudita, onde ainda existem mulheres detidas por simplesmente terem conduzido, ou limpou o lixo que os adeptos deixaram para trás em Silverstone em sinal de alerta pelo planeta.
Estes são momentos que reúnem toda a atenção da FIA e por isso o cumprimento rigoroso dos protocolos do pódio também foi atualizado, dando conta que quem não o fizer receberá sanções.
A tendência tem sido ver os pilotos que não fogem a estes temas remar para um lado e a FIA a remar no sentido oposto. Vettel deixou o barco desfalcado para 2023, mas depois desta decisão da federação, fica por ver o próximo passo de Hamilton.