Sebastian Vettel, 35 anos, tetracampeão do mundo de Fórmula 1, terceiro piloto com mais vitórias de sempre na categoria, apenas atrás de Michael Schumacher e Lewis Hamilton, anunciou que vai deixar os Grandes Prémios no final da temporada 2022. Além das declarações de circunstância no comunicado oficial da equipa Aston Martin, o alemão criou uma conta no Instagram e gravou um vídeo em que explica, olhos nos olhos com o espectador, porque decidiu que era tempo de viver a vida fora das pistas, citando a família e outras lutas como razões decisivas para abandonar a Fórmula 1.
A preto e branco, começamos por ver um banco vazio, daqueles que podemos todos ter nas nossas cozinhas. Vettel chega, de t-shirt sem imagens nem frases, com o cabelo comprido a que nos habituou nos últimos tempos. Sobressai outra característica a que o antigo piloto de Red Bull e Ferrari nos acostumou também: a sinceridade. Tanto nas palavras como na expressão do seu rosto.
Vettel começa por fazer o anúncio, em jeito oficial, com o obrigatório “venho por este meio”. Depressa o diálogo se torna direto, intimista, como se diria na música. “Talvez devesse começar com uma longa lista de pessoas a quem tenho de agradecer”, diz em inglês, com legendas. “Mas penso que é mais importante explicar as razões por detrás da minha decisão”, prossegue.
“Amo este desporto”, confessa Vettel, acrescentando: “É uma peça central da minha vida desde que me lembro”. O germânico diz então: “Por muito que haja vida em pista, há também a minha vida fora dela”. “Ser piloto nunca foi a minha única identidade. Acredito muito na identidade como o facto de sermos quem somos e o modo como tratamos os outros, e não apenas aquilo que fazemos”, explica o piloto da Aston Martin.
Chegamos à parte em que caímos facilmente na ilusão de que não nos limitamos a ser espectadores de um vídeo; somos amigos de Vettel, vamos a casa dele: “Quem sou eu? Eu sou o Sebastian, pai de três crianças e marido de uma mulher maravilhosa. Sou curioso e facilmente impressionável por pessoas apaixonadas e talentosas. Sou obcecado pela perfeição. Sou tolerante e sinto que todos temos os mesmos direitos a viver, independentemente da aparência, de onde vimos e de quem amamos. Adoro estar lá fora, amo a natureza e as suas maravilhas. Sou teimoso e impaciente. Consigo ser irritante. Gosto de fazer rir as pessoas. Gosto de chocolate e do cheiro a pão fresco. A minha cor preferida é o azul. Creio na mudança e no progresso e que cada bocadinho faz a diferença. Sou otimista e acredito que as pessoas são boas”.
Sebastian lembra mais uma vez: “Tenho uma família e adoro estar com ela” e prossegue, com a mesma frontalidade: “Desenvolvi outros interesses para além da Fórmula 1. A minha paixão pelas corridas e pela F1 exige muito tempo longe dos meus familiares e requer muita energia. O compromisso que assumi com a minha paixão, da forma que penso ter sido a correta, já não pode ser conciliado com o meu desejo de ser um grande pai e marido. (…) Os meus objetivos mudaram de ganhar corridas e lutar por campeonatos para ver os meus filhos crescer, passar-lhes os meus valores, ajudá-los a levantarem-se quando caem (…) e, mais importante, ser capaz de aprender com eles”.
O piloto alemão exprime então uma crença, que partilha com muitos de nós: “As crianças são o nosso futuro”.
“Para além de tudo, sinto que há muito para explorar e aprender. Sobre a vida e sobre mim próprio. Falando do futuro, sinto que vivemos tempos decisivos. A forma como moldarmos os próximos anos vai ser determinante para as nossas vidas”, avisa Vettel.
No confessionário que altruisticamente criou para falar connosco, Sebastian admite que a sua paixão “vem com certos aspetos” dos quais aprendeu a não gostar. Percebemos que o alemão se refere aos problemas ambientais que amiúde refere e pelos quais tem lutado principalmente nos últimos anos. “Eles podem vir a ser resolvidos no futuro, mas a vontade de aplicar a mudança tem de ser muito mais forte. (…) Falar não é suficiente e não podemos esperar. (…) A minha melhor corrida? Ainda aí vem. (…) O tempo é uma rua de um sentido e eu quero ir com o tempo. Olhar para trás vai apenas abrandar-nos”, diz o homem que é também piloto de monolugares.
Antes de nos devolver a imagem do banco vazio, Sebastian Vettel deixa-nos o agradecimento: “Adeus e obrigado por terem permitido que eu partilhasse a pista convosco. Adorei cada momento”.
Sebastian Vettel continua a ser o mais jovem campeão mundial de F1 da história, com 23 anos e 134 dias. Tem 53 corridas ganhas no currículo, na Toro Rosso, Red Bull e Ferrari. Nas duas últimas temporadas correu na Aston Martin, depois de começar a carreira em 2007 na BMW Sauber.