A equipa Alpine lançou um programa com o objetivo de encontrar uma piloto competitiva para integrar a Fórmula 1 nos próximos oito anos. O objetivo é combater preconceitos e dar às mulheres a oportunidade de mostrarem o que valem nas pistas da F1. O projeto faz parte de uma iniciativa mais alargada, para promover a diversidade no automobilismo e na própria empresa, ligada à Renault.
Laurent Rossi, CEO da Alpine, admite que a F1 requer “capacidades e habilidades especiais”, mas acrescentou logo de seguida: “De maneira alguma [pode dizer-se] que as mulheres não o podem alcançar”. A iniciativa da equipa francesa quer dar a raparigas e rapazes com um mínimo de 10 anos de idade as mesmas oportunidades de progredir no desporto automóvel até chegarem à F1.
“É um caminho longo, um programa de oito anos, a começar agora”, disse Rossi à BBC, acrescentando que as primeiras quatro ou cinco meninas identificadas vão começar a competir no karting “nas próximas semanas”. A Alpine quer perceber, de forma aprofundada, quais são os requisitos físicos, cognitivos e emocionais de um piloto de Fórmula 1, e está a trabalhar com várias organizações, como o Instituto do Cérebro de Paris. Tanto Fernando Alonso como Esteban Ocon, atuais pilotos da equipa, vão ser submetidos a diversas avaliações e servir de exemplo para o estudo.
“Consideramos que podemos influenciar a forma como os mitos são construídos, e queremos desconstruí-los: ‘as mulheres não são fisicamente capazes’; ‘as mulheres não deviam fazer isso’; ‘não há grandes exemplos’. A ideia é pegar em tudo desde o princípio e assegurarmo-nos de que construímos o caminho, da mesma forma que o fazemos para os homens”, disse Rossi.
De acordo com o CEO da Alpine, o programa vai providenciar o apoio necessário que não foi dado às pilotos no passado. “Elas nunca tiveram o treino adequado, o ambiente, o apoio dos governos (…) para chegarem lá”, afirmou Rossi, questionado sobre a ausência de mulheres nas pistas da Fórmula 1. “Temos mulheres a pilotar aviões a jato, mulheres astronautas em foguetões. Elas aguentam uma quantidade incrível de restrições, tanto física como intelectualmente, são extra-capazes. Poderiam conduzir um carro de Fórmula 1, tenho a certeza”, assegurou o empresário.
Ao longo de décadas, apenas duas mulheres participaram em Grandes Prémios. Ambas italianas, ambas no século passado. Maria Teresa de Filippis competiu em cinco provas, nos anos 50. Lella Lombardi participou em 12 corridas, em meados da década de 70. Lombardi conseguiu pontuar – meio ponto por terminar em sexto lugar um GP de Espanha encurtado – e foi a única mulher a fazê-lo.
Divina Galica e Desire Wilson, nos anos 70, bem como Giovanna Amati, em 1992, participaram em Grandes Prémios, mas não conseguiram levar os respetivos carros além da qualificação. Nos últimos 30 anos, apenas Susie Wolff conduziu um Williams, como piloto de testes, em três sessões de treinos livres. Foi em 2014 e 2015.
Mais recentemente, foi criada a W Series, exclusiva para mulheres, como caminho para que as pilotos ganhem nome no desporto automóvel. No entanto, apesar de a britânica Jamie Chadwick dominar a categoria, com um bicampeonato no bolso e caminhando a passos largos para o tri, não se fala da sua entrada no circo da Fórmula 1. E Jamie tem contrato com a Williams como piloto de testes.
Para Rossi, separar mulheres e homens em competição é a abordagem errada. “A W Series é uma forma de segregação. Uma forma de promover a inclusão no desporto automóvel seria reconhecer que não é preciso haver competições paralelas para mostrar o talento feminino, apenas estarmos mais abertos a isso”, disse o CEO da Alpine à BBC.
Apesar da opinião do líder, a equipa francesa mantém na sua academia duas participantes da W Series: as britânicas Alice Powell e Abbi Pulling, que correm em equipas diferentes naquela competição e testam ocasionalmente o carro de F1 da Alpine.