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Football Leaks

Eden Hazard, o homem que disse não à Doyen

O internacional belga chegou a estar em negociações com o fundo, mas o acordo não se fez. Esta é apenas uma das histórias de Hazard que se podem extraír da análise aos 19 milhões de documentos da plataforma Football Leaks que a revista “Der Spiegel” partilhou com o consórcio ao qual o Expresso se associou

EIC

Clive Brunskill

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Quando atingem certos níveis de fama e de rendimento, as estrelas do futebol atraem presas de todos os tipos, mas também investidores. Há uma série de pessoas à volta de cada estrela (gerentes de fortunas, advogados, especialistas de marketing, assessores financeiros), todas a tentar obter uma fatia do bolo ou fazer esse dinheiro crescer. Eden Hazard não é exceção, até por ser o jogador mais bem pago do Chelsea (12 milhões de euros brutos por ano). Não surpreende que o fundo de investimentos Doyen Sports tenha decidido pôr as garras nessa mina de ouro.

Aconteceu em setembro de 2014, segundo documentos do Football Leaks, obtidos pela revista alemã Der Spiegel e enviados para o Expresso e outros parceiros da rede EIC. Na altura, os agentes Michaël Nbonge, um antigo jogador bem conhecido na liga belga após ter jogado no Seraing, La Louvière e Harelbeke durante os anos 90, e o seu irmão Jean, pediram a Luís Aparicio Echezuria, o qual trabalhava para a consultora comercial EMA of London, que contactasse o fundo de investimentos maltês para negociar os direitos de imagem de Eden Hazard.

No seu site, a EMA of London apresenta-se como uma “companhia líder no setor internacional Projeto Financeiro e Finanças do Futebol, ligando globalmente investidores sofisticados a investimentos excepcionais, em linha com os objetivos de investimento dos seus clientes”. Esta companhia, portanto, atua como intermediário financeiro para clubes e jogadores.

Conforme lhe pediram, Echezuria contactou a Doyen Sports em 29 de setembro de 2014. O fundo de investimentos agarrou logo o isco. A primeira reunião, no início de outubro, teve a presença de Echezuria e os irmãos Ngonge, entre outros, e foi construtiva. A Doyen elaborou mesmo um plano de ação. Mas as relações depressa ficaram tensas... a propósito do como se ia dividir a comissão. Os representantes da família Hazard fizeram uma ameaça: sem uma participação, Thierry Hazard (pai de Eden e Thorgan, e o decisor final) não estaria na reunião chave.

Embora as principais pessoas envolvidas (Eden Hazard e a sua família) ainda não estivessem a participar nas negociações, e portanto não tivessem concordado em trabalhar com a Doyen, os intermediários e a Doyen Sport já disputavam a comissão reclamada pela família Hazard para aumentar o valor dos direitos de imagem do jogador do Chelsea. Por fim, a 10 de novembro, a família Hazard, através dos seus representantes oficiais (Vincent Vlieghe do AV Team Conseil), notificou a Doyen Sports da sua recusa definitiva: “Após efectuarmos uma série de verificações sobre as diversas atividades do Grupo Doyen, não nos parece útil ou oportuno organizar uma reunião. Neste momento, Eden Hazard não deseja expandir a equipa a trabalhar para ele, a qual é completa e cobre as várias questões que respeitam a um jogador do seu nível”.

O pacote concebido pelos intermediários, uma empresa de consultoria e a Doyen Sports, caiu. Só temos de perguntar porquê.

Quando os contactámos, os assessores de Eden Hazard mantiveram a explicação dada à Doyen: “Posso confirmar-vos que Eden Hazard é apoiado por uma equipa criada há alguns anos. Sob o olhar vigilante do pai dele, essa equipa compreende todas as questões enfrentadas por Eden Hazard, e ele está plenamente satisfeito com ela. Por consequência, não havia necessidade de dar seguimento ao pedido para uma reunião”.

As propostas que envolvem Eden Hazard e os seus assessores não se limitam a este exemplo. Em vários documentos, ficamos a saber que Eden Hazard pode tornar-se parte de pacotes de marketing, com os seus intermediários chamados a responder às exigências de pessoas ou empresas. Um documento revela-nos que a Chang (uma marca de cerveja tailandesa, patrocinadora das camisolas do Everton) perguntou que jogadores poderia usar numa operação de marketing na Tailândia antes do campeonato do mundo. Com um orçamento de 300 mil dólares, poderia ser Romeno Lukaku ou Eden Hazard, os dois jogadores identificados como prioridades para a marca.

Por fim, a prova última de que tudo é negociado pelas estrelas: privilégios e reuniões exclusivas têm um preço elevado. Num documento, ficamos à saber que uma família queria conhecer José Mourinho e Eden Hazard. Por um encontro de 10-15 minutos, com direito a cumprimentos, estava disposta a pôr na mesa 50 mil libras (59,241 euros).