No mês passado, a tenista Qinwen Zheng jogou uma partida de Roland-Garros a sentir fortes dores menstruais. Algo que, assumiu, acabou por afetar o seu desempenho e ditar a derrota frente a Iga Swiatek. O episódio lançou uma série de debates relacionados com o tema, sendo que um deles está a ganhar força agora que começou o torneio de Wimbledon: a obrigatoriedade de usar roupa branca no evento.
"Gostaria de ver isso mudar. Se tivessem uma política de vestuário que afetasse os homens da forma como afeta as mulheres, não creio que essa tradição em particular durasse. Não consigo imaginar entrar no maior dia da minha vida, com o período, e ser forçada a usar branco", disse Catherine Whitaker, apresentadora de programas sobre a modalidade, ao “The Telegraph”.
Whitaker já tinha abordado o assunto nas suas redes sociais, onde usou o seu próprio exemplo para conseguir explicar o que as jogadoras devem sentir: "Vivo com medo de ter o período durante uma semana em que estou a apresentar na televisão. E isso não envolve qualquer atividade física extenuante, policiamento das minhas pausas para ir à casa de banho ou exigência de usar branco", lê-se no Twitter.
A confirmar que realmente afeta as tenistas, Monica Puig, vencedora da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, citou a declaração da apresentadora e recordou o "stress mental" de ter de usar branco em Wimbledon.
“Definitivamente é algo que afeta as atletas! Finalmente trazem-no para a atenção de todos! Para não mencionar o stress mental de ter de usar apenas branco em Wimbledon e rezar para não ter o período durante essas duas semanas”, escreveu a ex-tenista.
O problema é que o branco é um dos grandes motivos de orgulho da organização do torneio. A regra que obriga a um vestuário totalmente branco surgiu no século XIX como forma de minimizar manchas de suor que se notam mais em roupas de outras cores. A regra tornou-se uma forma de distinguir este torneio de todos os outros. "O branco no ténis é aborrecido, a menos que seja Wimbledon, onde tem classe", afirmou Serena Williams.
E ninguém se atreva a quebrar esta regra, até porque nada escapa ao controlo. Nem nos grandes campeões. Andre Agassi, fã de roupas com cores mais vivas na primeira fase da sua carreira, boicotou o torneio de 1988 a 1990. Roger Federer recebeu um alerta por causa do cor-de-laranja da sola dos seus ténis e Martina Navratilova foi acusada de violar as regras por causa de umas riscas azuis na sua saia branca.
"Para uma atleta é muito complicado usar branco porque há os fotógrafos, fotografias em todo o lado, está a deslizar no campo, está a cair, a jogar, a saia está a voar para cima. Sempre achei que era melhor usar algo mais escuro, só para me sentir mais confortável", confessou a ex-tenista Tatiana Golovin ao mesmo jornal.
Golovin foi uma das jogadoras que já deu que falar por causa desta regra. Em 2007, surgiu no court com uns calções vermelhos por baixo da saia branca. A tenista garantiu que não esteve relacionado com a menstruação, mas sim porque se esqueceu de os tirar depois do aquecimento.

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"É algo que está sempre na mente quando se é uma mulher que tem de vir a Wimbledon. Sinto que ninguém diz nada porque talvez nunca tenha acontecido nenhum acidente. As mulheres sempre se limitaram a lidar com isso. Penso que eles [organização] levariam isto muito a sério se fosse um problema e se as pessoas se queixassem", continuou.
Mas misturado com a surpresa de não existirem mais tenistas a falar sobre o assunto publicamente, no que diz respeito a Wimbledon, está o facto de que nem toda a gente quer ver esta regra mudar. Jogadores incluídos.
"Ninguém quer ver a regra mudar em Wimbledon. É o que torna Wimbledon tão especial. O que precisa de ser mais discutido é a compreensão de que todos os meses há algumas jogadoras que lidam com muita dor e têm de ir para o campo e ainda assim dar 100%", disse a ex-tenista Rennae Stubbs ao “The Telegraph”.