“Lauda e Prost só queriam conduzir. Agora, o Vettel tem uma bicicleta com um arco-íris e o Hamilton é apaixonado por direitos humanos”
ANP via Getty Images
Ben Sulayem considera que o desporto automóvel está demasiado político e usa os exemplos de Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Lando Norris para o justificar. Os três pilotos têm utilizado as suas plataformas para abordar temas como a luta pelos direitos humanos, igualdade e saúde mental. Mas, dias depois das declarações do presidente da Federação Internacional Automóvel, o próprio tentou clarificar o que tinha dito
Mohammed Ben Sulayem, antigo piloto de ralis e atual presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA), depois de uma eleição em dezembro do ano passado, deu uma entrevista onde questionou o facto de alguns pilotos de Fórmula 1 usarem as suas plataformas para se pronunciarem sobre questões que não estão diretamente ligadas ao desporto. Como é o caso de Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Lando Norris.
A conversa aconteceu durante o Grande Prémio do Mónaco, altura em que o presidente descreveu o desporto automóvel como "demasiado político", utilizando os exemplos da promoção dos direitos LGBTQ+ por parte de Vettel, o ativismo de Hamilton associado aos direitos humanos e as tentativas de Norris de promover a conversa sobre saúde mental. Ben Sulayem comparou ainda o trio de pilotos aos antigos campeões mundiais Niki Lauda e Alain Prost.
“Niki Lauda e Alain Prost só estavam interessados em conduzir. Agora, o Vettel conduz uma bicicleta com um arco-íris, o Lewis é apaixonado pelos direitos humanos e o Norris aborda a saúde mental. Toda a gente tem o direito de pensar. Para mim, trata-se de decidir se devemos impor no desporto a nossa crença em algo”, afirmou ao site “GrandPrix247”.
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O presidente usou ainda o seu exemplo para continuar a defender aquilo em que o desporto não se deve tornar e aproveitou para mencionar que o uso ou não de joias, tema diretamente ligado a Hamilton, é apenas uma questão de cumprir regras.
“Eu sou de uma cultura árabe. Sou internacional e muçulmano. Não imponho as minhas crenças a outras pessoas? Nem pensar! Nunca. Se olhares para a minha operação nos Emirados Árabes Unidos: 16 nacionalidades! Diz-me uma federação que tenha tantas nacionalidades. Além disso, há mais de 34% de mulheres e sete religiões. E ainda mais cristãos do que muçulmanos. Estou orgulhoso porque cria credibilidade e mérito. Mas será que eu vou e ponho as minhas crenças? Não. As regras existem, mesmo agora há problemas quando se trata, por exemplo, de joias, eu não escrevi isso", disse.
Com as declarações a causarem alguma polémica e numa altura em que os pilotos estavam prestes a entrar na sala de conferências para falar com os jornalistas antes do Grande Prémio do Azerbaijão, marcado para este fim de semana, Ben Sulayem recorreu às redes sociais para clarificar as duas declarações.
“Como piloto, sempre acreditei no desporto como um catalisador do progresso na sociedade. É por isso que a promoção da sustentabilidade, diversidade e inclusão é uma prioridade chave do meu mandato. Da mesma forma, valorizo o empenho de todos os pilotos e campeões para um futuro melhor”, lê-se.
Ao acrescentar estas declarações, o dito e escrito pelo presidente da FIA acabou por ganhar ainda mais polémicas. Junho é o mês que celebra a comunidade LGBTQ+ e apela à consciencialização. No paddock, já há quem tenha assinalado a data.
A Mercedes fez uma mudança no logótipo da marca presente na frente do carro, que deixou de ser cinzento e passou a ter as cores do arco-íris, e irá utilizá-lo nas próximas três corridas. Hamilton, que usou uns ténis com as cores do arco-íris na chegada ao circuito, esta quinta-feira, defendeu mesmo que a equipa deveria manter o novo logótipo até ao final do ano.
OZAN KOSE
Vettel, em entrevista à revista LGBTQ+ “Attitude”, da qual foi capa esta semana, afirmou que a Fórmula 1 acolheria agora o seu primeiro condutor abertamente homossexual.
"Talvez não tenha sido o caso no passado, mas agora penso que um piloto gay de Fórmula 1 seria bem-vindo, e seria o correto. Penso que um piloto gay ajudaria a acelerar a eliminação de preconceitos e ajudaria a impulsionar o nosso desporto numa melhor direção. Por isso, penso e espero que o nosso desporto esteja pronto para um", disse Vettel.