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A “inflação real” chegou à F1 e ao fim de 7 de 22 corridas, o teto orçamental já é um problema: “Não há forma de ficarmos dentro do limite”

A “inflação real” chegou à F1 e ao fim de 7 de 22 corridas, o teto orçamental já é um problema: “Não há forma de ficarmos dentro do limite”
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As equipas de Fórmula 1 concordaram em estabelecer um teto orçamental, mas hoje em dia, para alguns, a ideia já não parece tão boa. Escuderias como a Red Bull, Ferrari e Mercedes consideram que o valor tem que ser revisto tendo em conta a situação atual em relação à inflação, mas há equipas que não estão de acordo

Os carros não foram a única coisa que mudou em 2022 para que o mundial de Fórmula 1 se tornasse mais competitivo. As equipas têm também um teto orçamental de 140 milhões de dólares (cerca de 131 milhões de euros) a cumprir, o que termina com a grande diferença no investimento entre as equipas com mais capacidade e as mais pequenas. O problema: equipas como a Red Bull, Ferrari e Mercedes estão convencidas de que terão de ultrapassar esse valor por causa do aumento dramático da inflação e dos custos de transporte. Motivo que não convence todos os envolvidos na modalidade.

"Na altura em que todos concordámos com essas reduções, ninguém poderia ter previsto o que se está a passar no mundo e como isso está a impulsionar a inflação a nível mundial. Estamos a vê-la na Fórmula 1, estamos a vê-la com a logística, estamos a vê-la com os custos energéticos. Para mim, isso é algo que a Federação Internacional Automóvel [FIA] precisa ter em conta”, afirmou Christian Horner, chefe de equipa da Red Bull, em entrevista à “Sky Sports”.

Horner revelou ainda que cerca de sete equipas de Fórmula 1 sentem exatamente o mesmo neste momento em relação ao teto orçamental. Uma dessas equipas é a Ferrari e quem o confirmou foi Mattia Binotto, chefe da equipa, durante o Grande Prémio do Mónaco: “Penso que não haverá forma de nos mantermos abaixo [do valor máximo]”, garantiu.

O chefe de equipa da Ferrari explicou que os regulamentos falam de um limite de 5%. Ou seja, “se não exceder o limite de 5%, no topo do que é o limite máximo orçamental, será considerado uma pequena infração”. A questão é que Binotto acredita que, neste caso, se as equipas excederem esses valores será por motivos de força maior.

“E o que é uma infração menor em caso de força maior? O que é que os comissários da FIA irão decidir sobre isso em termos de sanções? Não faço ideia, mas penso que não há maneira de nós — e muitas equipas — ficarmos simplesmente dentro [do valor], e mesmo despedindo pessoas, não creio que seja uma boa e correta escolha", disse.

Mark Thompson

E por muito estranho que pareça, desta vez as três rivais do topo da tabela estão de acordo. Toto Wolff, chefe de equipa da Mercedes, concordou com Horner e Binotto.

"O limite de custos foi introduzido para fins específicos, para permitir que as equipas pequenas gastassem a mesma quantia que as grandes. Não deveria haver uma negociação todos os anos para levantar o limite de custos. Mas penso que estamos perante uma situação excecional, na medida em que temos uma inflação real. Os nossos preços da energia em Brackley triplicaram, os nossos custos de transporte triplicaram”, explicou durante a passagem da Fórmula 1 pelo Mónaco, concordando que se trata de uma situação de força maior.

Mas a opinião dos 'três grandes' não faz eco em todas as equipas da grelha. A Alpine e Alfa Romeo já se mostraram contra qualquer tipo de ajustamento no teto orçamental.

"A maior parte das equipas fazem os seus orçamentos para o ano seguinte em novembro ou dezembro e nós não somos diferentes. E, nessa altura, a inflação já era de mais de 7%. Tomámos isso em consideração quando fizemos os nossos orçamentos e expusemos todo o trabalho de desenvolvimento que íamos fazer. E ainda estamos dentro dele. Onde há vontade, há um caminho e se estabelecemos um limite orçamental devemos mantê-lo", afirmou Otmar Szafnauer, chefe de equipa da Alpine.

Para Fred Vasseur, diretor-executivo e chefe de equipa da Alfa Romeo, a situação é ainda mais simples — se as equipas pararem simplesmente de continuar a desenvolver os seus carros, os custos serão reduzidos.

“Estamos nesta situação e mais cedo ou mais tarde teremos de parar o desenvolvimento do carro porque estaremos no limite do nosso orçamento. E penso que todos podem fazer o mesmo. Não se trata de um caso de força maior, porque a inflação não é um caso de força maior", disse.

Com a saída da Rússia do calendário, a Fórmula 1 terá 22 corridas este ano. Até ao momento, foram realizadas apenas sete e o teto orçamental já está perto de ser ultrapassado por muitas das equipas. Das duas uma, ou a FIA decide fazer um ajustamento no número limite, ou a lista de sanções poderá ser maior do que inicialmente se pensou.

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