Ser considerado o melhor jogador da Serie A, em 2022, não é o mesmo que ser considerado o melhor jogador da Serie A no final dos anos 80 ou na década de 90, quando muitas estrelas se concentravam no calcio. Mas receber essa distinção enquanto se leva o Milan — que não era, nem de perto, o conjunto favorito — ao fim de um jejum que durava há 11 anos torna tudo muito especial. Não se entende o sucesso rossoneri sem o talento de Rafael Leão, agora com a continuidade de que precisava para dar o salto definitivo.
Faz parte da famosa geração de 1999, mas nunca teve o estatuto de figura destacada. Isto porque o nível de determinação (ambição, se preferirem) não parecia acompanhar o potencial físico e técnico que revelou desde cedo na formação do Sporting. Fica a sensação de que o avançado de 22 anos percebeu, finalmente, aquilo que estava destinado a ser. Já não o vemos tão desligado da equipa, com um ar quase sonolento em campo. Eventualmente, partilhar balneário com Zlatan Ibrahimovic, o rei da auto-estima, ajudou-o a inspirar-se e a querer ser melhor. Soltou-se de amarras e assumiu o papel de estrela com toda a naturalidade.
Num Milan de muita consistência defensiva, a qualidade individual foi a chave para desbloquear inúmeras vitórias. Rafael Leão, juntando características de um extremo desequilibrador e de um avançado finalizador, resolveu problemas por conta própria e virou ídolo em San Siro. Tem a mesma altura de Thierry Henry (1,88 m), usando as pernas longas para proteger a bola e mudar de velocidade. É difícil travá-lo em campo aberto, sobretudo quando acelera da esquerda para dentro. Vai ganhando uma capacidade de improviso só ao alcance dos predestinados — quem ainda não viu, experimente ver o pontapé de bicicleta que fez contra o Atlético de Madrid.
É um avançado que ganha se tiver espaço e liberdade para se movimentar, não tanto sendo a referência ofensiva da equipa. Pioli entende esse lado rebelde e o português retribui a confiança. Jogando maioritariamente entre a esquerda e o centro, também em função das arrancadas de Theo Hernández, torna-se altamente imprevisível. A reta final de campeonato aumentou a exigência e a resposta não podia ter sido mais positiva. Havia espaço para recear que Rafael Leão se ‘encolhesse’ na altura das decisões. Foi ao contrário, fazendo disparar a própria credibilidade — junto dos próprios adeptos e, inevitavelmente, do mercado.
AC Leão, o rei do Milan
Eventualmente, partilhar balneário com Zlatan Ibrahimovic, o rei da auto-estima, ajudou-o a inspirar-se e a querer ser melhor. Rafael Leão soltou-se de amarras e assumiu o papel de estrela do AC Milan com toda a naturalidade, escreve Tomás da Cunha sobre o português que foi eleito o melhor jogador da Série A
31.05.2022 às 13h51

DeFodi Images
Partilhar
Artigo Exclusivo para assinantes
No Expresso valorizamos o jornalismo livre e independente
Relacionados
- Expresso
Pioli, o treinador com “uma dimensão humana difícil de encontrar” que recolocou o AC Milan no topo de Itália
Os rossoneri são, 11 anos depois, campeões italianos. Carlos Freitas trabalhou na Fiorentina com o técnico que os liderou e lá viveram juntos a "desgraça" da morte de Davide Astori, que obrigou Pioli a ser "pai, psicólogo e irmão". O antigo dirigente de Sporting, SC Braga ou Vitória destaca o "mérito enorme" do treinador em Milão, por ter "criado um grupo muito forte", apesar de "não ter as melhores individualidades" do campeonato, e realça o contributo de Rafael Leão, a "reedição de Henry no século XXI"
Últimas