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“Será isto algo que devemos fazer?”: Sebastian Vettel assume que as alterações climáticas o fazem questionar a presença na Fórmula 1

Sebastian Vettel não costuma ter qualquer problema em dar a sua opinião durante os fins de semana de Fórmula 1. Como convidado de um programa para falar sobre questões políticas, muito menos. No “Question Time”, Vettel falou sobre alterações climáticas, Brexit, Boris Johnson, a guerra na Ucrânia, Vladimir Putin e a NATO

Rita Meireles

Dan Istitene - Formula 1

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Já o vimos a limpar as bancadas do circuito de Silverstone pejadas de lixo, a aprender sobre o processo de reciclagem e a desafiar a Federação Internacional do Automóvel (FIA) a fazer mais pelo meio ambiente. No último Grande Prémio usou até uma t-shirt onde se podia ler “Miami 2060, o primeiro Grande Prémio debaixo de água. Age agora ou nada mais tarde”, alertando para a subida do nível dos mares devido ao degelo. O piloto de Fórmula 1 Sebastian Vettel nunca recuou na hora de defender o planeta e na passada quinta-feira assumiu mesmo que as alterações climáticas o fazem questionar o seu trabalho como piloto.

Durante o programa “Question Time”, da BBC, um formato que mistura questões políticas e celebridades, perguntaram ao quatro vezes campeão do mundo se a sua posição sobre o ambiente o tornava um hipócrita, considerando que faz parte de um desporto "a petróleo".

"Faz, faz, e têm razão quando se riem. Há perguntas que faço a mim próprio todos os dias e não sou um santo. Certas coisas estão sob o meu controlo e certas coisas não estão. É a minha paixão conduzir um carro, eu amo fazê-lo e amo cada vez que entro no carro. Quando saio do carro, claro que penso 'será isto algo que devemos fazer, viajar pelo mundo, desperdiçar recursos?'", respondeu Vettel.

O piloto alemão salientou ainda a importância da modalidade, que tem planos traçados em termos de sustentabilidade, a nível social e de entretenimento. Principalmente quando se trata da altura em que a covid-19 impediu o mundo de fazer muita coisa.

“Por outro lado, estamos a entreter as pessoas, durante a covid-19 fomos um dos primeiros desportos a recomeçar. Em termos de entretenimento, há desportos, cultura, comédia e muitas pessoas que não puderam atuar [durante esse tempo]. Muita gente sentiu a falta disso e se não o tivéssemos, no geral, provavelmente ficaríamos loucos", afirmou.

Mark Thompson

Para Vettel é importante começar pelas pequenas coisas que estão ao alcance de cada um. No seu caso, quando não há necessidade de viajar de avião, opta por não fazê-lo. A sua modalidade também pretende atingir uma pegada de carbono nula até 2030, com combustíveis 100% sustentáveis a partir de 2026, quando um novo motor for introduzido. E cada país pode também fazer uma parte.

"Sobre energia, precisamos e podemos deixar de ser dependentes [dos combustíveis fósseis] porque existem soluções em vigor. Na Grã-Bretanha têm esta espécie de mina de ouro que é o vento, e têm a capacidade de aumentar o vosso fornecimento de energia com energia eólica e solar. Cada país tem os seus pontos fortes e fracos. Se forem à Áustria, eles têm os Alpes e têm água, podem bombeá-la, armazená-la, levá-la de volta", explicou.

O tema da energia e do clima não foi o único em cima da mesa. Uma vez no Reino Unido, Vettel foi também convidado a falar sobre o não cumprimento das regras de confinamento por parte de Boris Johnson e o Brexit.

“Quando se está nessa posição, há certas coisas que simplesmente não se pode fazer. Estou a pensar, sou pai de três crianças e estou a tentar explicar-lhes algo que penso ser realmente importante sobre como se devem comportar e faço exatamente o contrário, o que acha que eles vão fazer? Sou a pessoa menos credível à frente deles então”, disse sobre o primeiro-ministro inglês.

Em relação ao Brexit, Vettel disse que sente que os políticos e eleitores a favor da saída da União Europeia não estão a ver "o panorama geral" em torno da cooperação internacional e disse que o Reino Unido está agora a lidar com as "consequências".

ANDREJ ISAKOVIC

Outro tema em discussão foi a guerra na Ucrânia e a possível adesão de alguns países à NATO. Vettel realçou que a guerra na Ucrânia ainda não acabou e deve ser dada exposição ao tema enquanto não terminar. “Não devemos esquecer que o povo da Ucrânia está a sofrer e será difícil durante muito tempo. Não consigo imaginar o sofrimento dos ucranianos. Não sabemos o que Putin está a fazer, mas temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para o deter”, disse, realçando que ninguém sabe com quem está a lidar quando se trata do presidente russo.

O tema da NATO surgiu no programa ligado ao anúncio da Finlândia de avançar com a candidatura. “Conheço muita gente finlandesa, a Finlândia tem uma longa fronteira com a Rússia. Eles estão em guerra há muito tempo. Compreendo perfeitamente a necessidade de procurar proteção”, defendeu o piloto.