Já o vimos a limpar as bancadas do circuito de Silverstone pejadas de lixo, a aprender sobre o processo de reciclagem e a desafiar a Federação Internacional do Automóvel (FIA) a fazer mais pelo meio ambiente. No último Grande Prémio usou até uma t-shirt onde se podia ler “Miami 2060, o primeiro Grande Prémio debaixo de água. Age agora ou nada mais tarde”, alertando para a subida do nível dos mares devido ao degelo. O piloto de Fórmula 1 Sebastian Vettel nunca recuou na hora de defender o planeta e na passada quinta-feira assumiu mesmo que as alterações climáticas o fazem questionar o seu trabalho como piloto.
Durante o programa “Question Time”, da BBC, um formato que mistura questões políticas e celebridades, perguntaram ao quatro vezes campeão do mundo se a sua posição sobre o ambiente o tornava um hipócrita, considerando que faz parte de um desporto "a petróleo".
"Faz, faz, e têm razão quando se riem. Há perguntas que faço a mim próprio todos os dias e não sou um santo. Certas coisas estão sob o meu controlo e certas coisas não estão. É a minha paixão conduzir um carro, eu amo fazê-lo e amo cada vez que entro no carro. Quando saio do carro, claro que penso 'será isto algo que devemos fazer, viajar pelo mundo, desperdiçar recursos?'", respondeu Vettel.
O piloto alemão salientou ainda a importância da modalidade, que tem planos traçados em termos de sustentabilidade, a nível social e de entretenimento. Principalmente quando se trata da altura em que a covid-19 impediu o mundo de fazer muita coisa.
“Por outro lado, estamos a entreter as pessoas, durante a covid-19 fomos um dos primeiros desportos a recomeçar. Em termos de entretenimento, há desportos, cultura, comédia e muitas pessoas que não puderam atuar [durante esse tempo]. Muita gente sentiu a falta disso e se não o tivéssemos, no geral, provavelmente ficaríamos loucos", afirmou.

Mark Thompson
Para Vettel é importante começar pelas pequenas coisas que estão ao alcance de cada um. No seu caso, quando não há necessidade de viajar de avião, opta por não fazê-lo. A sua modalidade também pretende atingir uma pegada de carbono nula até 2030, com combustíveis 100% sustentáveis a partir de 2026, quando um novo motor for introduzido. E cada país pode também fazer uma parte.
"Sobre energia, precisamos e podemos deixar de ser dependentes [dos combustíveis fósseis] porque existem soluções em vigor. Na Grã-Bretanha têm esta espécie de mina de ouro que é o vento, e têm a capacidade de aumentar o vosso fornecimento de energia com energia eólica e solar. Cada país tem os seus pontos fortes e fracos. Se forem à Áustria, eles têm os Alpes e têm água, podem bombeá-la, armazená-la, levá-la de volta", explicou.
O tema da energia e do clima não foi o único em cima da mesa. Uma vez no Reino Unido, Vettel foi também convidado a falar sobre o não cumprimento das regras de confinamento por parte de Boris Johnson e o Brexit.
“Quando se está nessa posição, há certas coisas que simplesmente não se pode fazer. Estou a pensar, sou pai de três crianças e estou a tentar explicar-lhes algo que penso ser realmente importante sobre como se devem comportar e faço exatamente o contrário, o que acha que eles vão fazer? Sou a pessoa menos credível à frente deles então”, disse sobre o primeiro-ministro inglês.
Em relação ao Brexit, Vettel disse que sente que os políticos e eleitores a favor da saída da União Europeia não estão a ver "o panorama geral" em torno da cooperação internacional e disse que o Reino Unido está agora a lidar com as "consequências".

ANDREJ ISAKOVIC
Outro tema em discussão foi a guerra na Ucrânia e a possível adesão de alguns países à NATO. Vettel realçou que a guerra na Ucrânia ainda não acabou e deve ser dada exposição ao tema enquanto não terminar. “Não devemos esquecer que o povo da Ucrânia está a sofrer e será difícil durante muito tempo. Não consigo imaginar o sofrimento dos ucranianos. Não sabemos o que Putin está a fazer, mas temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para o deter”, disse, realçando que ninguém sabe com quem está a lidar quando se trata do presidente russo.
O tema da NATO surgiu no programa ligado ao anúncio da Finlândia de avançar com a candidatura. “Conheço muita gente finlandesa, a Finlândia tem uma longa fronteira com a Rússia. Eles estão em guerra há muito tempo. Compreendo perfeitamente a necessidade de procurar proteção”, defendeu o piloto.