O Manchester City tornou-se nos últimos anos um dos clubes mais poderosos do futebol mundial. O controlo do clube pelo xeque Mansour bin Zayed al Nahyan, membro da família real de Abu Dhabi, deu ao City estofo financeiro para contratações multimilionárias. Documentos revelados esta quinta-feira pela revista alemã “Der Spiegel”, a partir do dossiê Football Leaks, mostram que o clube foi financiado por uma agência governamental de Abu Dhabi.
Recorde-se que em 2020 o Manchester City foi proibido pela UEFA de participar durante dois anos na Liga dos Campeões devido às revelações, feitas pela “Spiegel” no âmbito do Football Leaks, sobre as infrações do clube inglês no que respeita ao fair play financeiro. O City, apoiado por uma bateria de advogados, recorreu para o Tribunal Arbitral do Desporto contra a decisão da UEFA e acabou por ganhar.
O Manchester City foi detido pela Abu Dhabi United Group Investment & Development (ADUG) entre 2008 e 2021. Trata-se de uma empresa de Mansour bin Zayed al Nahyan, que tanto este como as autoridades de Abu Dhabi sempre fizeram questão de garantir ser um investimento privado de Mansour, sem qualquer ligação ao Governo do emirado.
No entanto, os documentos obtidos pela “Spiegel” indicam que a agência governamental EEA - Executive Affairs Authority (responsável por assessorar o emirado) apoiou as contas da Abu Dhabi United Group Investment & Development. A EEA é liderada por Khaldoon Al Mubarak, que é também o chaiman (presidente não executivo) do Manchester City, e que, segundo a revista alemã, terá aprovado fluxos de dinheiro do Governo de Abu Dhabi que acabaram nas contas do clube inglês.
A “Spiegel” refere a existência de pedidos de pagamento de comissões a agentes que foram enviados ao diretor jurídico da EEA, bem como uma fatura relativa ao patrocinador Etisalat que o Manchester City enviou a Omar Awad, administrador financeiro da agência governamental de Abu Dhabi.
No final de 2013, Omar Awad, a partir do endereço eletrónico da EEA, assegurou a Simon Pearce, membro da equipa de gestão do Manchester City, que a ordem de transferência havia sido dada, para reforçar a conta bancária da ADUG, de forma a que a empresa de Mansour pudesse canalizar um conjunto de transferências para o clube inglês.
Simon Pearce chegou a escrever um e-mail em janeiro de 2014, a um funcionário do clube, evidenciando a colaboração de Awad: “Omar trabalha para a EEA e é muito importante e prestável para facilitar a nossa gestão financeira no City”, escreveu o executivo do Manchester City.
Nem o City nem a EEA responderam às questões colocadas pela “Der Spiegel” sobre este tema.
O assunto poderá adensar as investigações da Premier League ao Manchester City, que têm incidido sobre suspeitas de que o clube aliciou com dinheiro jogadores menores de idade pressionando-os a assinar contratos, e de que os patrocinadores de Abu Dhabi apenas terão feito pago parte dos valores dos patrocínios ao City, tendo outra parte sido suportada diretamente por Mansour. Outra suspeita sob investigação é a de que Roberto Mancini, que treinou o clube entre 2009 e 2013, terá sido remunerado, em parte, através de um contrato de consultoria fictício.
Os documentos obtidos pela “Spiegel” e partilhados com o consórcio EIC – European Investigative Collaborations, de que o Expresso faz parte, indicam que a empresa que detém o Manchester City desembolsou milhões de euros em comissões a consultores e esteve por detrás de um negócio para contratar um jogador menor de idade.