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Fé, futebol e o que Fernando Santos ganhou (a análise ao Portugal - Turquia)

Fé, futebol e o que Fernando Santos ganhou (a análise ao Portugal - Turquia)
Octavio Passos/Getty

Fernando Santos acertou nas apostas em Otávio e Diogo Costa, Portugal pressionou com qualidade e a abordagem da Turquia (e um bocadinho de fé quando faltou a assertividade) fez o resto. O analista e comentador Tomás da Cunha disseca o jogo que levou a seleção nacional à final do play-off de apuramento para o Mundial do Catar

Fé, futebol e o que Fernando Santos ganhou (a análise ao Portugal - Turquia)

Tomás da Cunha

Analista e comentador de futebol

“Lá vamos nós outra vez”, pensámos aos 83 minutos. Burak Yilmaz tinha a hipótese de empatar o jogo no Dragão. Se a bola entrasse, seria um castigo totalmente imerecido para Portugal. O avançado do Lille meteu-a na bancada e tivemos a enésima confirmação de que os deuses nunca viram as costas a Fernando Santos e à selecção nacional. Ainda viria o golo da Macedónia do Norte, do qual ninguém se queixou – sem subestimar uma equipa que, recentemente, venceu em Itália e na Alemanha.

Ainda antes do apito inicial, o jogo já dava que falar pelas escolhas dos treinadores. Fernando Santos surpreendeu com o nome de Diogo Costa, certamente para marcar o início da sucessão a Rui Patrício na baliza. Nunca esteve em causa o potencial de número um do jovem do FC Porto, mas as ausências na defesa podiam levar o seleccionador a adiar esse processo. Não foi o caso e, apesar de ter tido pouco trabalho, o guarda-redes demonstrou segurança e ofereceu a mais-valia habitual na distribuição.

Mais à frente, havia a dúvida em relação ao posicionamento dos médios. Destacava-se a aposta em Otávio, um dos protagonistas que provoca reações mais antagónicas nos adeptos portugueses. Não será o mais talentoso, nem sequer aquele que impressiona pela estética, mas também não há dúvidas de que é um exímio jogador de colectivo. Cumpre qualquer função que lhe seja atribuída. Apareceu como médio direito, libertando o corredor para Diogo Dalot e procurando sempre ser um elemento extra na zona interior. Foi decisivo com um golo, assistiu, ajudou na pressão e recuperou bolas. Em termos de planeamento táctico e de escolhas individuais (entre os disponíveis, já que Inácio ficou na bancada), não há nada que se aponte a Fernando Santos. Tudo leva a crer que ganhou duas opções sérias.

A superioridade de Portugal, no entanto, também se explica pela abordagem de Stefan Kuntz. Quando tudo apontava para um sistema com três médios, decidiu testar o 5-4-1/5-2-3 e a equipa revelou muito desconforto. Çalhanoglu e Kökcü estavam em inferioridade na zona central contra Moutinho, Bernardo Silva e Bruno Fernandes, aos quais se juntava Otávio. Esta ideia do seleccionador turco aponta para algum receio da presença de Cristiano Ronaldo na grande área, protegendo-se com mais um central. Essa dimensão “invisível” facilitou a vida do conjunto nacional.

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