Adeus fair-play financeiro, olá regras de sustentabilidade financeira: UEFA vai alterar mecanismos de controlo das contas dos clubes
Marc Atkins/Getty
Segundo o "New York Times" e a "Associated Press", as novas normas irão levar a que, após um período de transição, os clubes só possam gastar 70% das suas receitas — até agora, colocavam apenas limites às perdas. Além da possibilidade de multas e suspensão das competições europeias, os incumpridores passarão a estar sujeitos a despromoções entre as provas continentais: uma equipa que esteja na Champions poderá ser relegada para a Liga Europa, por exemplo. Mas o teto salarial, de que Čeferin falava, parece descartado
Em 2009, a UEFA, então liderada por Michel Platini, criou o fair-play financeiro. A entidade máxima do futebol europeu pretendia combater o "sério agravamento das condições financeiras" dos clubes, promovendo a "sustentabilidade". O sistema foi sendo regularmente atualizado ao longo dos anos, mas sempre foi baseado em limitar as perdas que os clubes poderiam registar ao longo de um certo período de tempo.
Agora, 13 anos depois da criação de Platini, a direção de Aleksander Čeferin prepara-se para reformular o controlo das contas das entidades. Segundo o "New York Times" e a "Associated Press", a Associação de Clubes Europeus terá, na quinta-feira, uma reunião com a UEFA para limar as últimas arestas da nova proposta, que deverá ser aprovada em votação no Comité Executivo (liderado por Čeferin) a 7 de abril.
O novo sistema chamar-se-á "regras de sustentabilidade financeira" e terá como base uma mudança de princípio: ao invés de limitar as perdas, os clubes ficarão limitados a gastarem 70% das suas receitas. Espera-se que, tal como ocorre agora, este valor se refira somente a gastos diretamente relacionados com a equipa de futebol — iniciativas de cariz social ou despesas mais ligadas à formação ficam de fora.
Desde, pelo menos, 2017, que Aleksander Čeferin falava da hipótese de impor um teto salarial no futebol europeu com o objetivo de promover a sustentabilidade financeira e combater o desequilíbrio competitivo. A proposta que deverá avançar fica longe dessa intenção. Segundo o "New York Times", a ideia esbarrou, por um lado, na legislação europeia e, por outro, na oposição dos clubes mais ricos do continente.
Em fevereiro, a UEFA anunciou que os clubes registaram, em conjunto, 7 mil milhões de euros em perdas durante a pandemia.
As negociações entre o organismo máximo do futebol continental e os clubes decorreram durante o último ano e, de acordo com o "New York Times", não foram fáceis devido aos diferentes interesses em jogo. Os clubes mais ricos terão feito força para que o limite não fosse de 70%, mas sim 85%. Já os alemães, tradicionalmente com modelos financeiramente sustentáveis, queriam que o limite fosse menor.
Está previsto um período transitório até à total aplicação das novas regras. O teto inicial será de 90%, o qual irá baixar até aos 70% ao longo de três temporadas. A proposta prevê, ainda, que os clubes que provem possuírem contas equilibradas e sem quebras de regras anteriores possam gastar cerca de 9 milhões de euros acima do limite.
Outra novidade é uma densificação das penalizações para incumpridores. Além de impor multas ou expulsões das provas internacionais aos clubes, a UEFA poderá ordenar despromoções entre competições europeias, isto é, decretar que um clube que esteja na Champions dispute a Liga Europa; ou que um que participe na segunda prova europeia vá para a Liga Conferência. Nos últimos anos, uma das principais críticas que foram feitas ao fair-play financeiro foi a incapacidade de punir com eficácia os clubes incumpridores.