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Depois da fúria em Acapulco, um ano de pena suspensa para Zverev, que fez tilintar a raquete na cadeira do árbitro

Depois da fúria em Acapulco, um ano de pena suspensa para Zverev, que fez tilintar a raquete na cadeira do árbitro

Se voltar a ferir as regras do ténis nos próximos 12 meses, serão acionadas uma suspensão de oito semanas e multa de 23 mil euros para Alexander Zverev. Voltando a defender o “padrão duplo” neste desporto, Serena Williams reagiu ao caso: “Eu estaria provavelmente na prisão se fizesse aquilo”

Depois da derrota no Open de Acapulco, no México, seguiam-se os cumprimentos da praxe. Alexander Zverev e o brasileiro Marcelo Melo até pareciam estar serenos, conformados, embora a derrota na primeira ronda do torneio de pares seja desanimadora. Apertaram as mãos do britânico Lloyd Glasspool e do finlandês Harri Heliovaara, como acontece sempre. Ao passar na cadeira do árbitro que faz lembrar a dos nadadores-salvadores, o número 3 do mundo, cedendo à fúria, bateu com a raquete na estrutura metálica com uma pancada direita e duas de esquerda. O tilintar do metal, a surpresa do adversário, que se encolheu para trás, e o burburinho do público denunciavam a gravidade do gesto.

Mas Zverev, que por pouco não atingiu a perna do árbitro, não se ficou por aí. Sentou-se, não aguentou três segundos em pousio e levantou-se para um audível queixume. E voltou a bater, de esquerda, com a raquete na cadeira de Alessandro Germani, que já ia descendo do alto do lugar onde tenta olhar como os falcões olham.

Sem surpresa, o tenista, de 24 anos, foi desclassificado do torneio e teve de pagar uma multa de quase 37 mil euros. Mas teria sempre de enfrentar as sanções mais musculadas da ATP, que deram à costa esta terça-feira: o alemão recebeu uma pena de oito semanas de suspensão e uma multa de 23 mil euros, que só entram em vigor ou são acionadas se, no espaço de 12 meses (até 23 de fevereiro de 2023), o atleta voltar a ser multado ou sancionado por conduta antidesportiva. Trata-se de uma pena suspensa, portanto.

Umas horas depois do incidente, Zverev, que pode recorrer da decisão até sexta-feira, pediu desculpas via Instagram: “É difícil expressar em palavras o quanto me arrependo do meu comportamento durante e após o jogo de pares de ontem. Pedi desculpa, em privado, ao árbitro de cadeira porque a minha reacção para com ele foi errada e inaceitável, e só estou desiludido comigo mesmo. Não devia ter acontecido e não há desculpa”. Mais à frente, o tenista pediu também desculpa aos fãs do desporto que tanto ama. E prometeu: “Vou tirar uns dias para refletir nas minhas ações e no que posso fazer para garantir que não acontece outra vez. Lamento ter-vos desiludido”.

“Estaria provavelmente na prisão se fizesse aquilo”

Serena Williams, uma das melhores tenistas da história, comentou o caso de Zverev e lembrou o episódio com o português Carlos Ramos, na final do Open dos Estados Unidos, em 2018, que acabou por sorrir à chorosa e desolada Naomi Osaka.

Depois da polémica, em que a tenista usou palavras como “mentiroso” e “ladrão”, a norte-americana acusou Ramos de dualidade de critérios. Agora, em entrevista à “CNN”, reforçou a teoria. “Há, absolutamente, duplo padrão”, começou por dizer, depois de tentar segurar o riso perante a pergunta da jornalista. “Eu estaria provavelmente na prisão se fizesse aquilo. Literalmente, sem brincadeira.”

Serena Williams considerou, na altura, que ser-lhe atribuída a derrota num jogo de serviço por ter chamado “ladrão” ao árbitro demonstra que se trata de um ato sexista: “Ele nunca tirou um jogo a um homem porque lhe chamaram ‘ladrão’.”

A campeã de 23 Grand Slams deixou mais uma frase ou outra sobre o tema e sentenciou-o assim: “Mas está tudo bem. No final do dia, eu sou o que sou e amo quem sou”.

A tenista recordou também que viveu algo semelhante ao que vive agora Zverev, supostamente, segundo o “The Guardian”, por acontecimentos num jogo contra Kim Clijsters, na semifinal do US Open de 2009.

Williams estava a servir e a tenista belga, que ganhara o primeiro set, estava em vantagem por 30-15 num set que liderava, por 6-5, e procurava chegar ao match point. A norte-americana falhou o primeiro serviço e, no segundo, pisou a linha e ouviu-se “falta”. Williams ficou fora de si, apontando e dizendo palavras para a juíza de linha, que foi reportar tudo com a senhora que estava na cadeira a dirigir o encontro.

“Eu não disse que te ia matar”, ouviu-se, da boca da tenista, a certa altura. Com os responsáveis pelo torneio no court, foi decidido que o jogo terminava ali: 7-5. Williams largou a raquete e caminhou até Clijsters, que parecia perguntar-lhe o que se estava a passar.

A atleta, irmã de Venus Williams, foi imediatamente multada em 9 mil euros. Mais tarde, receberia uma sanção do estilo que foi agora atribuída a Zverev, ainda que mais grave. Ou seja, se incorresse em alguma ação anti-desportiva ou sanção seria suspensa pela WTA, a que se juntaria uma multa de 160 mil euros. O período em que teria de manter um registo imaculado foi, no entanto, muito superior: 24 meses.

Pelo meio, Williams lamentou o incidente e quis emendar o que dissera na véspera. “Quero pedir desculpa, primeiro, à juiz de linha, a Kim Clijsters, à USTA e sobretudo aos fãs de ténis em todo o lado pela minha explosão inapropriada. Sou uma mulher de grande orgulho, fé e integridade, e admito quando estou errada”, avisou.

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