Expresso

O menino Ugarte

O menino Ugarte

O treinador e analista Blessing Lumueno dedica-se a Manuel Ugarte, médio completo, decisivo para o coletivo do Sporting, com potencial para ser figura de proa num dos grandes europeus num futuro próximo

O menino Ugarte

Blessing Lumueno

Treinador de futebol

Pela forma como joga, poucos arriscariam dizer que vai apenas a caminho dos 21 anos. Na liga, não são assim tantos os nomes com potencial para vingar como figura de proa dos grandes europeus. Não é que venha a ser absolutamente decisivo, pela posição que joga, nunca será de aparecer nos highlights, mas a sua importância para o funcionamento do colectivo será mais do que reconhecida.

Há jogadores muito específicos, e por isso difíceis de descrever e de encontrar contextos onde se possam evidenciar; mas há outros que reúnem um conjunto de características tão diversas que nos permitem projectar o seu encaixe em contextos quase antagónicos.

Ugarte é esse jogador.

É Palhinha porque não facilita no esforço e na abnegação. Não é pelo seu tamanho, nem pelo peso, é sim pela predisposição que demonstra quando a equipa perde a bola para saltar rapidamente, pressionar e recuperar, ou para correr muitos metros para trás em recuperação defensiva no caso de a pressão ser ultrapassada. E mais importante ainda do que isso, é um jogador que está sempre em jogo. Isto é, quando os seus colegas têm a bola, ele não dorme. Procura posicionar-se de forma a ser linha de passe, ou a equilibrar a equipa para que esteja mais perto de recuperar a bola em caso de perda.

Não tem, ainda, a qualidade do médio português na abordagem individual aos lances defensivos, mas por outro lado é muito mais ágil e por isso consegue também ter outros argumentos para recuperar mesmo que a primeira abordagem seja má. Logicamente, em zonas mais próximas da baliza, uma má contenção, uma falha no encurtamento, pode dar em golo; mas com campo para percorrer, tem uma vantagem óbvia.

(Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP via Getty Images)

É Matheus Nunes por ser capaz de fugir da pressão, conduzir, e servir os seus colegas na frente, muitas vezes com mais critério que o internacional português. É verdade que com menos argumentos na finalização, e com menos instinto para aparecer na área, mas também é muito capaz de quebrar linhas transportando a bola.

Não sendo Bragança, também é muito capaz em passe. Progride com os apoios, procura jogar por dentro, serve de parede para as tabelas, e não sendo feroz no passe longo, também é competente na sua execução. Falta-lhe a pausa de Dani, e é a estabilidade que essa pausa poderá conferir ao seu jogo que o vão atirar para o próximo nível em momentos de posse.

Manuel Ugarte é, ao dia de hoje, um jogador completo e capaz de jogar em modelos mais ofensivos ou defensivos. É um jogador que agrega as características dos seus companheiros de meio-campo, que é intuitivo, e que pode enganar quem o vê pelo seu ar meio desengonçado e pela experiência visual que a sua formação corporal oferece a quem o observa. É, porém, um grande valor no campeonato português, e com margem para jogar com regularidade nos tubarões que lutam pela Champions, e disputam os campeonatos mais badalados do mundo, assim mantenha o registo dentro da equipa. Neste momento é, aliás, o elemento mais diferenciador do meio-campo de Rúben Amorim, ainda que estejam todos disponíveis.

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